21 de abril de 2008

“Desses lugares nascem os versos”

Bem longe de casa…
O sol trespassa-me o corpo e a sensação de um sono profundo, completo, na paz salgada do mar.
Olhar esse horizonte repleto de cristal, ondas abraçam as rochas, a praia habitada por gentes do mundo, agitadas e brincando, eu…
Na areia quente desenho mais um verso…
Esta paz devolve-me consciência, as palavras soltam-se dos dedos. Constroem-se habitações de gentes, inventam-se murmúrios de latentes, a calçada transeunte alvoraça-me com desejo.
Dispo o verso, como quem acaricia a formosura de um corpo, dispo a mulher, o sol confunde a luz, incita esta brisa a dar lugar à palavra.
As minhas palavras.
Chuva, quente e tropical, onda de mar madura, o meu corpo enfeitado, da alma viajante, carícias e ternura.
As noites são de festa, movimento, as gentes dançando nas calçadas, um copo de sol as estrelas oferendam, uma paz eleita no meu coração, de lá se vai…
Destes dedos, qual varinha de condão, expulsam-se versos, constroem-se moradas, recordações finitas do que é viajar novo mundo.
Palavras, acompanham-me, o corpo vibra, o corpo estremece consumindo da beleza desta planície.
O mar abraça o povo que sorri, as peles bronzeadas guardam sombreados de doçura, nas mãos da paz ventos eufóricos são poesias, palavras entoadas, descubro neste corpo viajante o livro da aventura, inventam-se e cantam-se versos, nus, corpos, amor e aventura.
Bem longe de casa…
A imensidão do sol cobre o corpo nu, quase dói não ter mais tempo para ocupar esta casa, que verdade feliz me atravessa a alma.
Escrevi… Escrevi aqui, um pouco das doçuras.
Troquei carícias com a chuva, quente e tropical onda de mar madura, o meu corpo enfeitado desta alma viajante, carícias e ternura.
Agora, aqui sozinho, observo a chuva no caminho, vá para onde vá, onde quer que esteja…
As emoções recordarei, eternamente, nos versos feitos de sol que criei.

Paulo Themudo

15 de abril de 2008

"Perdoem-me os Versos"

Condição primeira, olhar em frente, varrer o escuro aflito que trava batalhas neste espaço circunscrito onde me desenho.
Primeiro passo sacudir as mãos, caem no chão os pedaços, fragmentos dos versos lapidados, a vida que vivi esbofeteia-me com recados... Pecados.
Espaço, senti, as paredes criminosas recitam mais um poema, testemunhas, do tempo... Desse tempo.
Os braços abertos apertam os grãos de areia, meu deserto, mãos cheias de vazio, criança insatisfeita, dorme... Corre vagarosamente para velozmente saborear um sorriso.
Vi muito destas imagens, observei com rasgos de feitiçaria, que era o mar assassinando quem dava tudo pela vida.
Vi, sinistro, encanto imperdoável, mulher humana, criação, sou homem que modestamente a carne engana.
Condição primeira varrer a paisagem com os olhos, satisfazer o iluminado contido das estrelas onde grito... Grito! Procuro! Quase desisto...
Momento de tédio, as mãos não soltam, não... Não sai nada daqui, as celas são as palavras, as palavras que me desvendam e tão impiedosamente me cercam.
Sou vestígio de azul, sombras de medo deitam-se na calçada escura, lugar dos versos, a parede suja, as mãos insatisfeitas, assassinas, nada mais vale... De resto...
Vivi, sobrevivi, cansado, a luz entorna sobre mim o lugar abençoado, visões fluem o meu infinito, sou de resto... O que acredito...
O que acredito que varrendo o horizonte, deixo este pequeno mundo menos aflito.
O que acredito que o verso me derrota, é falso, entrega-me...
O que acredito, que o verso... Sou eu.

Paulo Themudo