28 de setembro de 2008

“Sou Uno”

A unidade é uma cerca que começa quando eu acabo.
Olhos de dragão tingem desolados pesadelos consumidos da alma errante que me vestiu.
No céu, reflectiu, onda de mar saboreia com lábios desdenhosos a aventura deste caderno onde vou tomando anotações deste tempo desatento, onde me cerco, rodeando multidões.
A unidade é um amor que começa quando naufrago.
A unidade do espírito banaliza-me, momento, vibro à pequena passagem das mãos que me enfeitam, terapia suaviza as linhas do corpo, sento-me...
Já chega!
Perdoem-me as incertezas, sou homem nesta aventura e desatino, carnaval de cores alheias, vestem o espírito, sou um sabor nos lábios descontentes, dor premente, presente sem futuro abraça o corpo despido, onde me deito...
Foram-me tão queridas, todas as viagens de silêncio que corpo aventurado se afoga em mim, inocente.
Foram maravilhosas, descontentes, palavras, pecado os meus lábios lapidam os pedaços de vidro teus olhos mastigam.
A lâmina dos meus pulsos, viola as palavras que adormecem nesta mesa redonda que enfrento.
A mesa do mundo!
Fatal, irreal, ficção desembrulha a laços sangrentos, oferenda dos homens crentes, sonho imaculado as mãos que me rodeiam, correndo aflitas para o meu corpo, unânimes e descontes, a cerca, olhos de serpente.
Meu pecado...
Provo o fruto do silêncio, acariciando as paredes assombradas, lugar de tantas ausências, os meus olhos são vivos, percorrem com sede, sufocando, o pequeno quarto guarda segredos... Os meus medos!
Sou náufrago da vida, velejando para um lugar qualquer, a minha liberdade começa quando Deus determina.
Alma passageira, esta, a minha, entorna nos copos escravos, pequenas lágrimas de decência.
Sou presente apavorado com o futuro que é o pequeno segundo que transforma o tempo em minutos devorando as horas.
A unidade é uma cerca que se fecha quando desabafo.
Perdoem-me... Perdoem-me, se eu... Se fui eu próprio não querendo olhar, tormento.
Perdoem-me quantas vezes forem necessárias, que o espírito vive além das muralhas, o presente descontente assombra as portas do futuro ausente.
Perdoem-me... Perdoem todos os homens, os homens que sonham, que transformam, que devoram silenciosamente o sabor da mágoa.
Ajudem-me... Ajudem-me.
Paulo Themudo

“O Tempo Reduto"

Tão verdadeiro, fome…
Criança escondida
Sufoca, no seu oxigénio,
Transpiram-se palavras,
Incógnitas, desespero,
Veste-se papel com medo.

Depois do céu, espaço,
Abraçam-me estrelas,
Dor, sinto, tenho olhos,
Olhos que roubam!
Minha natureza,
Fui imenso, imagem,
Fúria impetuosa, certeza.

Antes ser poeta,
Arma na mão, golpe frio,
Olhos enganados, sou escravo
Do que sou e não sou.
Meus olhos deixam um recado...

Depois de ser tudo
Não quis ser mais nada,
Iludi-me, iluminei-me,
Laborei a minha estrada.

A textura do caminho
Deixa recordar
Corpo, golpeado, meu sangue
Foi ao mar, naufragar.

E ainda tenho tantos medos,
Tanta fome de tudo!
Desejos, segredos,
Realidade, meu mundo...

Meus olhos
São galerias, cortinas abertas,
Em vida, o que resta dos meus dias,
Acaricio as mãos desertas.

O pensamento encontra
Na caricatura do tempo
Um lugar para os meus olhos.

Iludido... Fantasiei, dormi,
Teu colo um céu estrelado,
Caí, debruçado na luz,
Meus olhos, são agora, silêncio
Espelhado.

Houvesse mais tempo, eu
Memória, enganando o presente
Que é somente relâmpago de tempo
Permanentemente ausente.

Vou embora, soluçando,
A voz segreda-me aflita
Lugar dos sonhos, ilusão maldita,
Medo esfomeado, terror,
Sou corpo, sou nada,
Depressão do amor,
Imagem, possuo a cor,
Os braços sangram, e guerra,
Onde tudo acaba.

Eu quero sol,
Dormir, sentir os grãos de areia
Com que construo os meus castelos,
Moradas incertas, sangue, minha veia
Compõe o silêncio presente.

Desejando ser poeta, corri,
Outra vez só, cometi
Adultério com as palavras,
Infiel, preso aqui,
Golpeio o que resta de mim.

Foi falso, precipício,
Verdades contêm de mim
Frívolo pensamento, desdenho,
Quem sou, afoga
O Rio estranho, foi vida.

A vontade é um alicerce
À toa, a força, eu,
Majestoso brilho, socorro,
A alma corre a sala inebriada,
Os braços, abertos,
Alcançam lugares, a janela,
Meus olhos crescem, respiro,
O outro mundo, vivo.

Juro que não menti,
Queria apenas dois dias
Dizem a vida tem,
Quero vivê-los,
Aqui.

Farei verdade, da jura,
Este sangue imaculado, segura
No corredor das palavras,
O virar de um tempo,
Passagem solitária, meu ser,
Descalço, escondido, embriagado.

Foi falso, o início
Que não teve fim.

Acordar, tantas gentes,
Da minha pequena alvorada,
Brilhos, luminosos lençóis,
Daqueles que deitados, amaram,
Criaram, foram inocentes e dementes.
Não tenho signo, sou feito de areia,
Inimigo, vento,
Percorre-me o corpo diminuído
Por qualquer caminho.

Não paro, agora…
Está alguém, do outro lado,
Onde me encontro, choro,
Sorrio e me amedronto.

A vontade é silêncio que me veste
As mãos são
puras louvando,
Palavra, minha prece,
Arte mais antiga, ser homem.
Entregar ao tempo
O que lhe apetece.

Juro que não me vendi,
Queria apenas dois dias
Dizem a vida tem,
Quero vivê-los,
Aqui.

Porque consigo, amplitude,
Abraçam as obras, são meu corpo,
A carícia, são olhares,
Apetecíveis as mãos que vestem.

Não me deixo cair,
Flutuo, assombrando o inimigo,
Céus escarlates, perigo, batalha
Meu coração enobrece, dizendo…

Sou voz semelhante
Ao reino evidente, puro, somente
Dos céus evidenciados, sou amante
Logo a voz desperta,
Parecia eu, areia, palavra
No pálido da memória,
Traços, mensagens,
Hieróglifos evidentes
Da minha hierarquia pendente.

Vestido de Deus,
Afogo, a terra acode,
Ateio, observo, incendeio
Corações, vivo!

Vestido de mim,
Acordo e respiro.

Quero ao mundo dar
Quero ao mundo falar,
Acosto à praia deserta dos meus versos,
Eis que me revejo ressurgir da areia,
Meio humano, meio gente,
Meio desejo, meio inocente…
Quero os dias!
Quero ocultar as verdades das mentiras!

Deixem-me fantasiar,
Iludido, ser,
A criança insistida
Que anda em mim.

Juro que não me escondi,
Queria apenas dois dias
Dizem a vida tem,
Quero vivê-los,
Aqui.

Perdoem-me, tamanhos versos,
Não hesitei,
Atirei para aqui,
Tudo aquilo que senti!

Paulo Themudo

“Medos Inocentes”

De tal forma me senti invadido, por tudo e por nada, ser, meu testemunho são palavras desfasadas, contexto de vida desamparado nos versos esgotados que o mítico silêncio derrota.
As estradas são feiticeiras, invertem-se, paisagens são crianças nuas de esperança, vi-me, de negro semeando a calçada.
A foice da morte, degola-me o rosto da palavra, era medo, tudo, era medo, nada.
De tal forma me surpreendo agora, o mundo, o fim do mundo, como me custa, como me dói.
Pensava que era um herói, fictícia seria apenas a palavra a testemunhar, quem sou, fui, não vou daqui implorar ao céu, reino das minhas veias, são fantasias iludidas crescendo, fazem de mim, vestígio, sombra, louco padecendo, humidade nas janelas do meu mundo, é chuva que chora chamando por mim, sem demora a torre ao alto projecta sinais, embarcações dos meus sentimentos, amores, ódios e raivas, fulminam no meu corpo, as palavras ausentes.
Uma maré cheia de corpo, a alma pedinte silencia agora o resto de caminho, paisagem personifica a idade do mundo, sou ser que caminha, inundando as vozes cruéis com destino.

Tenho medo! Tenho dor!
Tenho uma vontade de sair, desistir, acabar, fechar os olhos, dormir…
Não acordar.

De tal forma me invadiram as pessoas, com tantos gestos, mímica descalça-me, mãos desesperadas de verso, tenho sentimentos loucos!
Sou no entanto, a alma mais pedinte, um ser desatinado surripiando palavras à boca da lua, beijando seu lábios, ninfa nua, sou feitiço nessas mãos que cobardia indesejada me deixa à deriva, à procura…

Não fosse feito de gelo, calor que queima, sou morte e vida, o reino das tuas mãos é silêncio que me obriga.
A ternura assombrou, meiguice, veludo teu corpo transpirado, eu choro ao canto da palavra que me hão roubado.
Não será em vão que esculpo os meus medos, não será desmedida esta ausência do nada, serei fortuna nos olhos, voz que agita o silêncio perturbador da madrugada.

Deixem-me! Larguem-me!

Deixem-me ser fantasma do meu coração, deixem-me ser lágrima tecida de ilusão, deixem-me ser o caminho, a vida, o momento, a pintura desfalecendo sem emoção.
Não fosse feito de tudo e nada, não fosse sucumbido pela trovoada, não fosse eu, humano!
Não fosse entrega desesperada, deste tempo que naufraga, nas veias de sangue, que são nada menos, que vontade amarga de verso numa loucura plagiada.

Perdoem-me! Perdoem a criança!

Levem-lhe o que não viu, entreguem-lhe o que não fui…

Sorriam! Sorriam!

Criança corre o prado dos seus sonhos, acorda sem ver nada, seus pesadelos são meus medonhos.

Não ter pai não ter mãe, não ter nada!...

Venham!

Socorram o olhar que castiga a alma, ouçam a palavra de esperança, da criança que navega este meu corpo, numa crença monumental, num reinado virtual, minha vida…
Vontades rítmicas de ser, pousadas de velhice, caminhos gastos, naufrágios, demência, pecado, ter nascido criança….

Não! Deixem-me ser quem sou! Deixem-me ser criança!

Deixem-me! Que um dia, também eu, me vou…

Daqui para onde? Que lugar acolhe quem foge tão repentinamente de um silêncio povoado de vento, que se move, levando o corpo, acariciando as mãos que pedem, mérito, não fui mais que alguém, desistindo prontamente, sucumbindo nas mãos sonhadoras de alguém.

Vibro!

Passagens de um tempo, são filmes, criei, emoldurei nas vozes minhas, nas palavras que acarinhas, encarcerei para sempre, a inocência, o medo, aventura, eu…
Sou um conquistador, rei de mim, senhor do meu corpo, lavo palavras nos rios, invento sensações, crio desafios, vou-me, foi destino.

Atacam-me com violência, rasgam-se páginas de vida, incendeiam-se misturas de tempo, sou, apaixonado ainda pela vida, evito, sou eternamente criança, sou deleite de um olhar, arrojado, principiando o caminho da vida.

Deixem-me ser criança!
Deixem-me libertar a criança que está em mim!
Deixem-me não ser mais que lembrança!

Deixem-me!

Deixem-me ser assim!

Paulo Themudo

3 de junho de 2008

"Quatro Paredes e Um Sonho"

Desastradamente a encontrar um lugar, sensibilidade do ser cristalino, água pura leva aos lábios carnudos mais sede, horizonte agoniado saboreia os últimos instantes de um momento desnecessário.

Fui filho sem pai… A montra das palavras constrói-me o livro, um lugar mais altivo, tesouro, as palavras que soltei ainda que quase desistindo.
O espelho vermelho saboreia este sangue que horizonte despido vai pintando com cores azuis de céu padecido.

Fui filho sem pai… Montanha movendo silêncios, sede de sorrisos, criança assaltando inadvertidamente retrato de infância onde quase fui gente.
Sou o herói que te salva da fogueira, maior pecado sentir, a vida em desgarrada mergulha em mim numa nostalgia incapaz, poema bate asas, nova morada o silêncio comedido dos teus braços.

Bola de cristal, plano gigante, observo para além do meu tempo onde me vejo, sentado ao lado de um pai, o pai que nunca tive!...

Horizonte agoniado perpétua nos braços seus a imagem fictícia com que me recordei…
As palavras enfeitam esta miragem, quando olho para os lados não vejo nada, os cotovelos do rio levam as lágrimas, choradas e sentidas, procurando um anjo qualquer.

Sou ser navegante nas ondas do vento, tão-somente me derrotaram as ilusões e as fantasias, os sentimentos, brotam de mim como braços carentes, alimento, a paisagem que se desnuda enquanto observo.

Fica-me a calçada, rua escura onde tantas vezes me deitei, agoniado o pequeno candeeiro enfeitiça a tela gigante, filme da vida, criei.

Senti-me tão inútil e só.

Sobrevoo a paisagem interior do meu corpo, espelho vermelho, meus olhos, tremuras, rosto pálido, o buraco escuro onde me atiro, não deixo nada de mim, sentido…

Abrigo, um lugar coerente, recado incisivo, golpe das mãos atiram-me ao chão, destruído… Criança, os pés sangram, caminho sem estrada, olhei, não vi, a noite escura é onde me retiro, meu lugar… O fim do mundo, castigo.

Fui filho sem pai… Tantas vezes adormecido, acordar o sol reflectindo, braços quentes, pareciam raios de luz distantes, as palavras meu único universo capaz.
A cela, palpitação, as palavras habitam em mim, vivo decorando quatro paredes, mudo, surdo, sugam da alma pura o que resta de decência, farrapo, não sou nada, pedaço humano derrotado, carne, alimento do ódio, sou pobre…

A floresta de fogo, meu ultimo sonho, mãos enfeitiçadas, meu ultimo pecado, atravessar o espelho vermelho, que é minha alma castigada, a boca selada, os olhos apáticos prisioneiros do sono, o sono profundo, sonhos prisioneiros do pesadelo são o que restava…

Meu grito sem voz! Que fiz eu?

Fui filho sem pai… Fui criança, vivi sonhos, brinquei desde cedo com palavras, ficou-me naufrágio, solidão e carência…

Mas sou carne! Sou carne humana que alimenta as paredes deste cerco, minha morada…
A depressão, as linhas que vou marcando, caderno diário, vivi esgotado, surrealismo, incompleto, onde foste?

Meu pai…

A solidão senta-se à mesa devorando sentimentos, tristeza, bebe o meu sangue, minha alma, sobremesa, edificam-se incertezas, as paredes observam cada gesto, sonho reflectido, quanto resta… Levaram-me tudo!...

A um canto, o feto, as palavras procriaram dando lugar ao universo…

Sou um monstro!

Sangue do meu sangue, sou pai, do universo tamanho que incertezas revelaram, espírito, estas palavras são minhas…

Fui filho sem pai… Com tanto para contar, com tanto para dar.
Consumiram-me, devoraram-me, desprezaram-me, espezinharam-me…
Dei tudo, não restou mais nada.

Complexidade depressiva, os dedos ao ar imploram clemência, juízas, palavras atiram-me à cela dessa vida, tribunal dos justos, o sonho de criança não passa de pesadelo viajando nas mãos do verbo. O verbo onde nasci, castiguei com sede humana, tela, cortina desta existência, pintei percursos, a solidão senta-se à mesa, dialoga com o ódio, conspiram contra mim…

Ou contra o mundo?

Silenciosa, um pouco de ânsia é entornada nos copos ilusórios, bebem-se os recados com que enfeitei as palavras, a palavra é arma mortal, a mesa, um corpo nu, violado.

No meu cubículo, observo, encobrindo o corpo com cobertores de paixão, sorrindo maleficamente, qual louco saído do hospício.
Palavra de fome mastiga o ódio, ansiosamente, sou ilusão semblante observando significado gigante, poderoso, do que vivi…

Atravesso o espelho vermelho, corpo nu, virgem…
E, quando chego ao outro lado, só vejo fome! Só vejo dor!...

Calma…

Sou pai, sou pai, tenho amor, poderoso, para colmatar sofrimento e dor deste novo mundo.

Meu filho…
Paulo Themudo

29 de maio de 2008

“Os Olhos São Siameses das Mãos”

Minha nova fronteira, este sonho que não me dá paz.
As aventuras que criei logo se deixam evadir por recados, a minha maior loucura nunca olhar para o lado, a porta entreaberta deixa-me o rosto enamorado.
Sou desatento às tuas danças, o sangue quente penetras, seduzida nas mãos escravas, do teu corpo, mãos ternas.

Real seria olhar sem ver, da nudez do teu corpo mergulhar em ti e desaparecer.
Falo distraído, consumido na luz que vibra no sangue do vento, estrada lamacenta, deito-me sereno, o corpo evade-se, a eterna morada, meu sustento…

Os olhos são siameses das mãos, o sexo devora sem olhar a meios os pecados que navegam os teus seios, a paisagem que madruga os teus sonhos.
Contornos corporais, lapidados com estes olhos, diamantes puros e bravos, são furacão que te inunda com luz, jóia perpétua, a palavra amante.
Sensualidade, fugaz dos lábios, respiro fantasias, ilusão acordar ainda dia, olhar através das cortinas e só restarem sombras, para culminar insatisfação do tanto que padecia.
Sou sentimento escorrendo os teus cabelos, embalo os meus lábios nas linhas curvas do corpo, salivando por um sentimento.
Sou homem enlouquecido, no calor desses braços, vibra, árvore feita mulher, o dia será eterno, quase perfeito, enquanto os olhos se fecham me vejo deitado saboreando a beleza do teu peito.
Os olhos são diamantes brutos, acção, o corpo movimenta-se brusco, gemidos no ar ofuscam o brilho das estrelas, noite escura devolve à luz, imperfeições e impotências da minha fraqueza.

Os olhos são siameses das mãos, que comem, devoram insaciados, clímax o teu corpo deitado, aguardando, desejo fortuito, eu, teu amado.

Talvez agora, tudo tenha novo sentido, ou não, seja sonho onde venho deambulando adormecido, seja prosa, escrevi nas tuas costas o diário dos dias sós de Inverno.

Gostaste?

Pelo menos… Amaste?

Evito palavras estranhas, porque na sua qualidade são tamanhas, monstruosas quando se evadem das fontes mais ricas destas entranhas.
Evito dizer o que senti, esgotado, o pó circunda o quarto, respiro ofegante, abro as mãos designadas, exausto o corpo permanece inerte, aos pés da cama observo o chão, o espelho pálido concentra em si imagem, de fecundação, pornografia da minha humana condição.
De fundo uma melodia atravessa as paredes, vibram as portas, nas mãos segredos, a janela aberta deixa absorver o que resta dos cheiros.

Evito comentários, desaguam palavras sem significado, estranho o dia e a noite, são lugares desabitados, que mãos laboram o texto errado, da condição presente, inércia, o corpo saboreando o olhar deitado.

Quero ficar, sem medo, quero acreditar sem rodeios, quero nascer no teu ventre, sentir dos teus olhos o abraço eloquente.
Evito estar presente… Eu… Eu e as minhas paredes, choram inundando todo o espaço.
Palavras do meu tempo desaparecerão eternamente, deste precioso momento não restar mais nada… Senão…
Tudo!
Estando eu pouco demente, evitado e rejeitado para sempre…
Lembra-te…
Os olhos são siameses das mãos. Também amam, Também namoram, também te possuem, agarram e devoram.

Mesmo que…
Mesmo que sejas apenas um sonho a viajar o mar agitado que é sangue que ferve nas minhas veias.

Não te preocupes…
Eu volto.
Eu sempre volto.

Paulo Themudo

27 de maio de 2008

“A Palavra e os Corpos!”

Brutal!...

Tecido humano, novelo de sangue, coração triunfante, namoriscando a natureza entediante.

Animal!...

Instinto, sôfrego, sentimento de pedra, lugar de sonos profundos, grão tecendo com novelos de vento, nova armadura.

Soldado! …

Implacável, ser vivido desfruta, sabor de um fruto, pútrido só por si furtando as lágrimas desta natureza.
Ser da chuva, as correntes espirituais abraçam, luvas negras são mãos que estilhaçam, a minha guerra!

A minha guerra!
São as palavras...

Sinto-me ir, devastando tudo à minha volta, cumpri o silêncio, fecundei o pensamento entornando nas mãos de pedra a erosão do vento.

Sentimentos...
Tenho tantos!
Sou construído de tantos!

Tenho para mim, egoísta, passos irmãos, consumados, extasiados no tempo.
Irmãos de alma... Feitos de palavras.

Palavras! …

Brutalmente maltratadas, inconscientes, assinadas! As minhas palavras feitas de tantas moradas.
O edifício sou eu, ao cimo, nuvens de pó e desatino, minha tortura, olhar os dedos, não ter pintura, observar orvalhos da natureza, caindo, sepultando as terras removidas, meu silêncio, minhas palavras! Meu incenso!

Os olhos!
Emolduram certo momento, choro ecoa as paredes do universo, espaço encantado e sereno, são essas mãos onde acordo...

Mãe.

Lá longe, sangue corre nas veias, é o íntimo da poesia conquistado, alma segura cai sangrando, o último beijo foi meu pecado.

Guerra! Meu pai... Nasci!

Será que sabendo, será que implacavelmente me contendo, te entrego... Me dou e não recebo, não me nego.

Amo! Amo! Amo tanto! ultrapassando todos os limites do sentimento.
São as palavras... São as palavras!

Bestas!

Medonhas, enfarte, miocárdio sufocando, é velha gente!
Por falta de palavras! Por falta de palavras, vai-se só e indiferente...

Os velhos!
São como crianças, pedintes de sorrisos e lembranças.
As crianças! …
As crianças são palavra, na boca dos velhos!
São vida no início da vida, neste tempo que lâmina golpeia sem desdenho, onde não há nada... Nem mesmo palavras.

Estou cansado! Estou farto!
Lastimo minha última morada, que foi céu aberto, sorri com esplendor, a foice da solidão estanca-me o sangue, a alma percorre todos os cantos, sou serpente maligna saboreando de um corpo...
Pecado! Humano! Pecado!...

Bela donzela, fica-me o nome, o fruto amargo como fel dá-me desespero.
Ouçam-me os céus, ou algo mais poderoso e infinito...

Cortaram-me a língua!
As mãos trémulas, elevam-se gracejando, olhos cegos em pose segura, suplicam...
Despedem-se...
Estão as portas do universo cerradas, almas viajantes sem moradas, as estrelas são as soberanas do novo mundo!

Palavras!...
Só mesmo um Deus as poderia derrotar!

Estou cansado!
Farto de ser uma besta! Animal! Brutal! Soldado! De ser Palavra!... Um sonho…

Um sonho bom, ou um sonho mau.

Paulo Themudo

22 de maio de 2008

"Depois Das Lágrimas... Que Bebi"

O chamamento, a queda solitária, bebo à saúde dos deuses, penetra-me as veias como sangue perdido, muralhas escaldantes enfeitiçadas de sol, são o meu corpo...

Transpira, respira fúnebre, visão das ruas, o copo da alma dá-me de beber sem caminho.

Rosto, decência, farto de ser mendigo, acordo não dormindo, tomar dos olhos senis um trago de vício, sou velho! Tenho poemas e lemas de criança infantis! Sou grito que respira a tua sede de sonhos, sou ser... Humano descobrindo, abrem-se cortinas, cego no passeio descalço, correm agarrando estrelas, os meus olhos...

Vivo a sombra das miragens, oásis planetário da noite embriaga-me, estas gentes que passam despem-me os jornais que em noite irrequieta enfeitam corpo de papel, palavra sem sabor, nas mãos dos Deuses, Clamo, Grito alto! O grito aflitivo e sufocante da sede desta poesia furtando.

Ficam sombras, oferenda, coração humano, de gente humana... Gigante! Do tamanho do grito! Desespero, não ser mais gente.

Agora o sabor é insípido, da cor das lágrimas transparentes, decorando vagas de mar incandescentes que são os olhos cegos balançando nos braços efervescentes, do sol...

Estou velho! Ouçam! Estou velho! Tenho medos! Tenho sed... Sim, como de um deserto se tratasse, tenho tanta sede!

Minúsculo raio de chuva namora a singela nuvem que passa desamparada despindo os meus olhos.
O vidro opaco, projecta imagens, vivências em mesa cheia, do líquido, vertem as mãos transpiradas a última réstia de grito.

Perdoem-me... Perdoem-me os Deuses se não me contive. Mas quis... Quis encharcar a alma com sonhos embriagados de pesadelos, quis ser louco, desenfreado mastigar as correntes do vento, namorar o ar refrescante, nadar a vaga de mar, ilusão...

Solidão a idade dos tempos me permite, dizer assim, que sim... Que nasço no dia em que morri. Cheio de sede! Cheio de medo! Cheio de frio!

O pedaço de Jornal noticia-me, a necrologia, acredito agora, sim, seriamente que bebi em demasia da poesia dos sonhos, para deixar de estar, aqui...

Paulo Themudo

16 de maio de 2008

"Psico - Novela"

Quem sou eu?

Novela escura, preto no branco, a sépia do tempo emoldurando fragmentos vivos de poesia.
Eu sei, respiro lá no alto, um lugar, a criatividade do sonho transforma o pesadelo, algas de mar são os meus cabelos, as rochas um coração que não se move, o sal, as lágrimas que despi nas primeiras vagas de um lugar sem luz.
Praia deserta, lugar dos desabafos, o mais minúsculo grão de areia é palavra, furtada em silêncio comedido em noite escura de luar adormecido.

Quem sou eu?

Um predador de sonhos, um agressor dos sonos, pintando telas desnorteantes, agitando os corpos que aqui se levantam, recolhendo para mim o esplendor, inocência ou permanência de uma qualquer alma.
O saco cheio, furtei sem dignidade, o mais minúsculo sentimento transformado, ódio, palavra certa para este ser da escuridão, condenado.
Há um altar, um Deus que desconheço fazendo frente, coro de vozes respirando, pintura da vida foi meu momento, os braços gigantes correm velozmente, eu segurando a taça religiosa, este sonho é pesadelo que me afasta o tempo. Um tempo onde vivi, amei e odiei como toda a gente, pintei sem medos o que vi, escuridão da cela onde alma castigada se encerra, a pintura arde insaciada nas vagas insultuosas do mar que namorava.
Sem sentidos, rascunhos são os dedos laminados, como espadas rasgando páginas, vorazes as mãos exaltam em si o prodígio das prometidas lembranças… Lembrança de ser alguém!

Quem sou eu?

Um fogo que vibra, ódio insatisfeito minando o dia com palavras de heresia.
Santuário, demandam de um Deus maior menos cansaço, da vida que vivo, ficam…
Ficam paisagens chocantes, criança brincando no luar agarra o que resta da maresia, meus olhos salgados compõem versos e devolvem à vida, nova narrativa.
Paisagens, mergulham os meus sentidos, luz maravilhada, escuridão de outro dia, os passos inventam o caminho, mudanças, namoro o sol e a lua, embriago-me nas lágrimas impacientes, cegueira do mar eloquente, visto a moldura triste, asas voam maravilhadas, elevei-me a um ser superior, senti… Fui gente!
Sei lá o que é escrever, sei lá o que é viver, não vi telas para pintar, vi sonhos a desmantelar a paisagem destes olhos, que só queriam … Amar! Abraçar a novela da vida, viver sonhos, contornar a fantasia, dar cor ao mundo!
Deixem-me delirar, assim não deixarei este trono, no auge da minha espiritualidade asas zangadas levar-me-ão daqui para uma nova morada.
Fartei-me e derrotei-me, cegueira tapa-me o que resta do sabor do vento, as mãos descalças são permanência, deste ser que esteve sempre ausente.
Alma saboreia das vagas dos meus olhos, alimento de um Deus superior meu corpo dilacerado, nas mãos de qualquer gente sou fragmento, carência de afectos, os pés andarão sempre descalços, o vazio as rochas poderosas preencherão, enquanto eu… Enquanto eu for vivo as novelas reais da vida serão ilusão.

Quem sou eu’ Quem sou eu?...

Vasto de segredos, traço a vermelho o rosto que me tornou pesadelo, misturo as cores, são palavras de desespero, a moldura preenchida é rasgo incompleto do que não percebo.
Poeta, pintor, voz psicológica sem cor, agarrado às correntes do mar nunca dantes navegado, meu pesadelo, não me lembrar de ser criança, ser homem, destinado ao que todos sabem, impedido de sonhos ou ilusões.
Corri os céus, voei o tempo, na cela da minha alma deixo palavras, para que me possam compreender o momento… Sou gente, sei, apenas poderei dizer que sou gente.

Quem sou eu?

A vaga do mar, a palavra que sangra, o alimento do pesadelo, sonho vão, sangue, alma, o que não se vende, eu… Sou o que se esqueceu de ser alguém.
Paulo Themudo

13 de maio de 2008

"Rio de Sal" - Luis Ferreira - Edium Editores


No próximo sábado, 17 de Maio, pelas 17.00 horas, na Biblioteca Municipal do Barreiro, será lançado o livro "Rio de Sal" de Luís Ferreira.Obra e autor serão apresentados pelo poeta Xavier Xarco.

"O Outro Céu"

Nuvem enclausurada no mais divino, as mãos erguem vontades de rei num palácio cristalizado e vestido de sol.

Minha nova morada…

Ousada a vaga de mar verte o corpo excitado que mãos sinceras elevam, cavalgam as novas moradas do céu, sou cavaleiro do tempo numa armadura de vento.
As gentes, meu trono… O fio desta arma enclausura a nuvem que logo se dissipa consumida pelo sabor da trovoada.
O livro sagrado, páginas desmitificadas, os olhos sangrando, os corpos caem, tão farto…
Poltrona onde sento o tempo, anjos de veste escura acomodam-se na cama onde me sento, o pensamento é ouro que flui nas veias irrequietas deste pesadelo.

A ala real afasta as cortinas… Deixem passar! Deixem passar!

Abrem-se as portas dessa morada, sonho enclausurado namora a vaga de chuva, são olhos de cristal que te constroem nas mãos de cavaleiro a moldura pálida de novo reino.
Sou rei, das estrelas inventadas em noite escura, que espada nobre meu corpo segura, batalha dos meus pensamentos a alma escura, são as vagas de mar ousadas que meu corpo enclausura.
Rei de nascimento, mendigo em prados sangrentos, da fome escura o momento fatal são os presentes, gente de medo conforta os prados ainda verdes, batalha de sol e de chuva, o céu vende pedaços de inferno, na nostalgia desta pintura ferida de Inverno.

De que cor? … Quem sou eu?

Um lugar sereno, a arma dispara cega de ódio, consigo ver as almas subindo, a nuvem escura alimentada, o céu tão gigante e tão pequeno.
Sou rei… Das paisagens um eco, a palavra recitada no palácio de cristal, é pó na poltrona emoldurada onde me cerquei.
Atrás de mim o pesadelo súbdito das minhas carências.
Céu e inferno, a gente humana cava sepulturas de silêncio, vida eterna a alma promete, vontade divina de um rei é para sempre.

Quem precisa de abrigo?

Abrem-se as portadas, a sala monstruosa acolhe fragmentos de alma ou gente.

Onde está o meu reino?

Tudo à volta é carnavalesco, o sol vermelho, o céu de cinza rasgando o olhar de quem o consome, ser rei… Ser gente, prisioneiro de um qualquer lugar.
Sim, ser rei não é mais que ser gente igual a outra gente.
Chamam-me plebe? Não chamam-me homem, com um lugar cativo em qualquer outro céu com janelas de diamante ou de vidro.
Bem - vindo ao Inferno… Dizem… Bem - vindo ao Inverno permanente, morada sem luz, poltrona de tecido moldada por gente.

Sua alteza… Esta é a sua nova morada.

Paulo Themudo

"Não..."

Não quero a insignificância,
Comprar palavras, sentir-me gigante.
Não quero a magia
Provar do horizonte o teu rosto distante.
Não quero ficar sem luz
Cair a tropeçar na louca escadaria
Onde te quis abraçar...
Não quero o silêncio que me comove
Com forças poderosas me arrasta as correntes
Do naufrágio vazio,
Que foi o meu coração a envelhecer
Noutro tempo.

Não quero ser mão poeta
Rasgaar os teus lábios na tela gigante
Que pinto,
Nestes sonhos com que me acordas as noites.

Não quero suplicar por ti.
Não quero modificar o que há em ti.
Não quero sufocar sem razões para ficar.
Não quero o teu slêncio.
Não quero não saber quem és.

Não quero ter de suplicar
Com que palavras me hás-de acordar.
Não quero gastar o tempo
A correr fraquejado o teu momento.
Não quero ser indigno.
Não quero ser perfeito nas tuas mãos.
Não quero ser mendigo.
Não quero escrever a poesia.
Não quero tingir a tela
Onde naufraga a obsessão do teu nome.

Não...

Não é obsessão.

É amor... É amor...

É amor.

Paulo Themudo in "Repousadas Mãos Que Sentem" - 2006

"Não Fui Além de Mim Nem do Tempo"

Fatal momento
Será distante, casualmente eu,
Não passarei de um pensamento.

Fechado na noite
Olhos de vidro respiram chuva,
Brilho de Inverno,
Nuvem suja de pó,
Qual alma serena de perder sem dó.

Fatal momento
Das portas abertas
Das cercas da minha guerra
Despedida terna, amada flor
As tuas mãos são névoa.

Desiquilibrado o dia
Da terra para onde parto
Ausenta-se nua e fria
A alma insistida
Com que me vestia.

Queria não parar de correr...

Fatal momento
Entorna-me o beijo, desalento,
Vâ esperança, ser espírito livre
A vaguear o teu pensamento
Sem asas feridas, voar o tempo.

Um tempo que não passa.

Designado a não ser nada
Sem olhos, chama viva e clara,
Coração embala distâncias
Da arte não sou mais nada
Deixo ao teu critério, esperanças.

Fatal momento
Experimenta-me do silêncio
Contendo
Luz da vela onde te respiro
Suor do corpo onde me abrigo.

Queria não parar de te ver...

E nunca desistindo
Afogando o pensamento triste
Acordada a alma cansada
Estou convencido, respiro,
Deitado a teus pés
Sinto-me a alma mais amada.

Fatal momento
Deixa-me a pensar...
Quero estar aí.
Quero acordar.

Queria não parar de te ver.

Paulo Themudo in "Silêncio Transparente do Meu Corpo" - 2007

"Mergulhei o Horizonte"

Atormentado, evitando o desígnio
A dor, solta-se, gritando,
Transpira a alma segura, domínio
A morte deixa um sabor inevitável.

Sinto-me engrandecer
Os olhos vertem, os...
Os olhos sentem, mergulhados em mim,
A maré revolta-se, os corpos nus.

Eu e os meus dragões
Ou eu e, os meus fantasmas,
Deixo aqui pegadas
Palavras ensinadas, sacrificadas.

Atormentado, evitando o destino
Fico esperando, quando penetras em mim
Química desigual, parece o fim,
Sinto-me engrandecer, enfim.

Eu e os meus sonhos
Desastradamente aos encontrões
As paredes sujas de palavras
Foram os sonhos assassinados, emoções.

Cresci e mergulhei no que vi
Vontade de navegar os teus seios
Loucura, filosofia, tenho medos,
Mergulhar o corpo e não ter meios.

Atormentado, por não ser nada,
Seja: Por não ser nem saber nada,
A dor rasga-me, as veias sangram,
As palavras são agora, alma, estrada.

Eu e os meus pensamentos
Deitado no horizonte despido
Vingo a aurora com momentos
Divago silencioso, olhos, o sorriso...

Atormentado, mergulho a vida,
Um prazer imaculado, teu corpo,
Envolvência sinistra, será meu um dia...
A morte deixa um sabor inevitável.

Sim...

Estou morto.

Paulo Themudo in "Fui... O Que Já Não Sou!..." - 2008

12 de maio de 2008

"O Preço da Alma"

Palavras…
Da varanda perdida do meu mundo, horizonte adormecido nestas mãos calmas que olhos de verão acordam.
Não tenho palavras caras! Não as conheço… A alma inflige um movimento fatal que mão de Deus desenha a traço fino, o rumo, horizonte padecido de sonho amarga a voz deste silêncio reinventa o meu esconderijo adormecido.
Dentro de mim vivem e morrem todos os dias, são desenhos de flores sem cor, sombras gigantes de medo estendem os tapetes vermelhos da minha realeza inadmissível.
Sangue nobre guarda as veias, palavras são nada ou mãos cheias, do pouco que a calçada oferece, meu alimento é o tempo.
Não tenho palavras caras! Tenho fantasias, castelos dominados por princesas, dragões lutando com os meus fantasmas, espelho absorve desta face pálida o que resta de ser tudo ou nada.
Acordo, sonâmbulo todos os dias, tropeçando, deambulando num copo de água que é a minha sede absorvida.
Sou criança, nasci agora, não vi nada, as garras desse vento debatem-se nas costas sofridas, o coração consome, alma gasta, palavras velhas, são estas, resultados de ilusão e mentira.
Tenho este sentimento, tenho esta fé em mim, nasci a acreditar que vivendo o sonho nada mais teria fim, mesmo nos dias em que acordo apático de mundo e de todos, tomo ainda o gosto de algumas palavras, esperançado que o livro que as mãos lavram com recados, tenha finalidade.
Não tenho palavras caras! Tenho as minhas, que são a face, que são o choro, que são silencio, que são verdades ou mentiras neste sonho assombrado onde me escondo.
Estico os braços, a varanda perfeita, voam no ar versos, são a minha vestimenta, de alma que se deita.
A varanda do meu mundo espelhos redundam, a paisagem, fantasia e sonho numa só imagem. Os meus gritos confundidos na brisa que passa, palavras…
Queimadas, carenciadas, são as minhas, não são devotas sensatas, muito menos caras!
Entretenho os dedos, jogando ao ar pensamentos, são crianças que correm desesperadas para a boca de um Deus, só meu!
São estradas que principiam sombreadas, estendidas nas mãos iluminadas de um qualquer anjo no percurso de umas escadas.
O céu suplica-me essas palavras, as que eu não dei…
As minhas palavras, não são palavras caras! Mas…
Talvez na pronúncia deste meu silêncio, a alma nobre dê sujeito ao sangue, estes olhos cansados de chorar, tão tristes de ver o mundo, sonham! Sim… Sonham!
Haverão sempre crianças nas minhas palavras, haverá sempre caminhos nas estradas, mãos cansadas serão sempre alimentadas, nada faltará, jamais! Enquanto eu…
Enquanto eu tiver palavras, mesmo que não sejam as mais caras!
Paulo Themudo

7 de maio de 2008

"Antologia 2008 Amante das Leituras" - Edium Editores


A edium tem o prazer de anunciar a edição da Antologia Poética 2008, Amante das Leituras, para o próximo dia 31 de Maio. Este ano, a Antologia contará com as participações dos seguintes autores: Alexandra Oliveira, Ana Maria Costa, Carlos Alberto Roldán (Argentina), Carlos Luanda, Denilson Neves (Brasil), Geraldes de Carvalho, Jorge Vicente, José-Augusto de Carvalho, José Dias Egipto, José Gil, Manuel C. Amor, Maria João Oliveira, Maria Rita Romão, Mónica Correia, Paulo Themudo, Samuel Gomes, Túlio Henrique Pereira (Brasil) e Vera Carvalho.

21 de abril de 2008

“Desses lugares nascem os versos”

Bem longe de casa…
O sol trespassa-me o corpo e a sensação de um sono profundo, completo, na paz salgada do mar.
Olhar esse horizonte repleto de cristal, ondas abraçam as rochas, a praia habitada por gentes do mundo, agitadas e brincando, eu…
Na areia quente desenho mais um verso…
Esta paz devolve-me consciência, as palavras soltam-se dos dedos. Constroem-se habitações de gentes, inventam-se murmúrios de latentes, a calçada transeunte alvoraça-me com desejo.
Dispo o verso, como quem acaricia a formosura de um corpo, dispo a mulher, o sol confunde a luz, incita esta brisa a dar lugar à palavra.
As minhas palavras.
Chuva, quente e tropical, onda de mar madura, o meu corpo enfeitado, da alma viajante, carícias e ternura.
As noites são de festa, movimento, as gentes dançando nas calçadas, um copo de sol as estrelas oferendam, uma paz eleita no meu coração, de lá se vai…
Destes dedos, qual varinha de condão, expulsam-se versos, constroem-se moradas, recordações finitas do que é viajar novo mundo.
Palavras, acompanham-me, o corpo vibra, o corpo estremece consumindo da beleza desta planície.
O mar abraça o povo que sorri, as peles bronzeadas guardam sombreados de doçura, nas mãos da paz ventos eufóricos são poesias, palavras entoadas, descubro neste corpo viajante o livro da aventura, inventam-se e cantam-se versos, nus, corpos, amor e aventura.
Bem longe de casa…
A imensidão do sol cobre o corpo nu, quase dói não ter mais tempo para ocupar esta casa, que verdade feliz me atravessa a alma.
Escrevi… Escrevi aqui, um pouco das doçuras.
Troquei carícias com a chuva, quente e tropical onda de mar madura, o meu corpo enfeitado desta alma viajante, carícias e ternura.
Agora, aqui sozinho, observo a chuva no caminho, vá para onde vá, onde quer que esteja…
As emoções recordarei, eternamente, nos versos feitos de sol que criei.

Paulo Themudo

15 de abril de 2008

"Perdoem-me os Versos"

Condição primeira, olhar em frente, varrer o escuro aflito que trava batalhas neste espaço circunscrito onde me desenho.
Primeiro passo sacudir as mãos, caem no chão os pedaços, fragmentos dos versos lapidados, a vida que vivi esbofeteia-me com recados... Pecados.
Espaço, senti, as paredes criminosas recitam mais um poema, testemunhas, do tempo... Desse tempo.
Os braços abertos apertam os grãos de areia, meu deserto, mãos cheias de vazio, criança insatisfeita, dorme... Corre vagarosamente para velozmente saborear um sorriso.
Vi muito destas imagens, observei com rasgos de feitiçaria, que era o mar assassinando quem dava tudo pela vida.
Vi, sinistro, encanto imperdoável, mulher humana, criação, sou homem que modestamente a carne engana.
Condição primeira varrer a paisagem com os olhos, satisfazer o iluminado contido das estrelas onde grito... Grito! Procuro! Quase desisto...
Momento de tédio, as mãos não soltam, não... Não sai nada daqui, as celas são as palavras, as palavras que me desvendam e tão impiedosamente me cercam.
Sou vestígio de azul, sombras de medo deitam-se na calçada escura, lugar dos versos, a parede suja, as mãos insatisfeitas, assassinas, nada mais vale... De resto...
Vivi, sobrevivi, cansado, a luz entorna sobre mim o lugar abençoado, visões fluem o meu infinito, sou de resto... O que acredito...
O que acredito que varrendo o horizonte, deixo este pequeno mundo menos aflito.
O que acredito que o verso me derrota, é falso, entrega-me...
O que acredito, que o verso... Sou eu.

Paulo Themudo

12 de março de 2008

José Felix - "Travessia" - ediumeditores


A edium editores tem o prazer de anunciar o lançamento do livro "Travessia" do poeta José Félix e ter lugar no próximo dia 22 de Março no Porto Palácio Hotel (sala3Rios).
José Nascimento Félix, nasceu em 1946, em Luanda. Licenciado em História pela F.C.S.H. da Universidade Nova de Lisboa tem os seus poemas publicadas em dezenas antologias. Em 2003 publicou, em livro autónomo, o título "Geografia da Árvore (a reinvenção da memória)".É coordenador da página "Encontros de Escrita" http://www.escritas.paginas.no.sapo.pt/ que alberga a melhor da poesia contemporânea em língua portuguesa bem como da página pessoal http://ateiadaaranha.blogspot.com/
A associação deste que é um dos mais respeitados nomes da poesia portuguesa actual ao catálogo de poesia da edium é motivo de orgulho para esta editora.

Xavier Zarco - "O Livro do Regresso" - ediumeditores



Depois do lançamento em 2007 do premiado “Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá – Invenção de Eros” a edium editores prepara para Fevereiro a apresentação de “O Livro do Regresso” de Xavier Zarco, obra também galardoada, desta feita com o Prémio de Poesia Raul de Carvalho, instituído pela Câmara Municipal de Alvito.
O fulgurante trajecto literário de Xavier Zarco conta com uma vasta lista de obras publicadas: O livro dos murmúrios (1998), No rumor das águas (2001), Acordes de azul (2002), Palavras no vento (2003), In memoriam de John Lee Hooker (2003), Ordálio (2004), Hino de Santa Clara (2005), O guardador das águas (2005), O ciclo do viandante (2005), O fogo A cinza (2005), Stanley Williams (2006), À beira do silêncio (2006), Monte maior sobre o Mondego (2006), Afluentes do poema (2006), Trinta mais uma odes (2007), Divertimento poético (2007), Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá: Invenção de Eros (2007) e Poemas com rosto (2007).
A Xavier Zarco foram ainda atribuídas as seguintes distinções: Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá - 2004, organizado pelo Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, ao título O guardador das águas; Menção honrosa (poesia) no Prémio Literário Afonso Duarte – 2004, realizado pela Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, a Monte maior sobre o Mondego; Vencedor do Concurso para a letra do Hino da Freguesia de Santa Clara, efectuado pela Junta de Freguesia de Santa Clara, em 2004, com Hino de Santa Clara; Prémio de Poesia do Concurso Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage - 2005, promovido pela LASA - Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, a O fogo A cinza; Prémio de Poesia Raúl de Carvalho - 2005, levado a efeito pela Câmara Municipal do Alvito, a O livro do regresso (agora editado); Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá - 2007, do Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá: Invenção de Eros; Prémio Literário da Lusofonia - 2007, da Câmara Municipal de Bragança, a Nove ciclos para um poema (no prelo); Menção Honrosa (Poesia) no 1.º Concurso de Conto e Poesia da CGTP-IN – 2007, a 25 Cravos de Abril (título ainda inédito).

“A Cerca Humana”

Este mundo tão pequeno, viradas as costas, paisagem sem sabor onde os frutos tomam o gosto nas palavras sábias de quem viveu.

Eloquência! Sideral, a manta de castigos tinge os homens com comum sabor mortal.

O céu escuro.

Eis a pequena persiana que se fecha, olhos devolvem, mãos escondem, horizonte puro.
O pequeno mundo é o meu, as costas agarram o timbre melodioso de um sino que toca.

Lugar de Deus… Dizem.

Este mundo tão pequeno, gente sábia, dizem…

Não restam senão improvisos do sabor do sol, descansado neste corpo vivido, sucumbido e aflito, furtam-me desesperadamente, o que resta, do pequeno mundo…
O meu sorriso.

Acordei aqui, rodeado de tantas feridas, a guerra dos meus sonhos movimenta os minutos deste relógio, que braço castigado trabalha.

Que fiz eu ao tempo? Onde me perdeu o silêncio?

Pequenos passos, pequenos mundos, desço a escadaria deste lugar, abruptamente o oxigénio asfixia, sem voz, atiro-me! Lá ao cimo toca o sino, montanha, a prece toma feições de gente.

Lugar de Deus… Dizem.

Este mundo tão pequeno, eu…

As mãos baralham as cartas, sorteando um lugar, colinas paisagísticas, criação do verso, história banal, nas mãos dos homens, tomam conta, da gente humana tanto de desigual.

Salta para cima de uma mesa, respirando, palavra odienta, absorve o cérebro humano, somos pequenos robots à nascença, raça extinta, dizem do homem surge o mundo, tão gigante a sua voz, corpo pequeno, como o mundo que tenho, este meu mundo tão enfermo.

Assiste-se agora ao derradeiro momento, soldados nas mãos poderosas desta gente, família, sonhos, vida, vai-se extinguindo toda a paisagem em silêncio enquanto nas mãos se gasta mais uma lágrima sem o sabor do momento.

As pernas caminham, as mãos manuseando uma arma, os olhos pálidos, sinto-me apático e desnutrido, do que são os meus sentimentos.

Este pequeno mundo, gente humana barafustando, ninguém sabe, sabor das minhas lágrimas, o pequeno riacho aguarda, dizem que me espera, o sino vai tocando…

Palavra de Deus… Dizem.

Não invisto, desisto, não quero correr sem desígnio, a igualdade funde-se nos sonhos construídos que foram imensidões de egoísmo, fatal o homem que nasceu de outra cor, não é mais que um animal asfixiado sem dignidade nas mãos humanas dos presentes.

Falo de raça… Sim.

Este mundo tão pequeno, viradas as costas, somos silêncio…

Talvez eu não saiba… Sim,

Talvez eu não saiba sobre o que escrevo…

Mas é o que eu sinto.


Paulo Themudo

9 de fevereiro de 2008

Convite - "Fui... O que já não sou!..."



O autor Paulo Themudo e a edium editores têm o prazer de o convidar para o lançamento do livro de poesia "Fui... O que já não sou!..."a ter lugar na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, matosinhos no dia 1 de Março pelas 17.00.
A apresentação da obra ficará a cargo do poeta Xavier Zarco e a cerimónia contará ainda com a interpretação artística de alguns poemas da obra a cargo dos actores Filipe Nascimento, Joana Resende, Otília Costa e Ruben Correia acompanhados musicalmente por João Sardoeira.



25 de janeiro de 2008

“Pecado dos Céus”

Pela primeira vez, nesta vida que levo, decansando nos ramos do céu, lugar paradísiaco, provo o fruto intenso do corpo... Comunguei com o anjo.
A estrela que cai, rumando a um horizonte impávido de luz, sereno e cobrindo o rosto que à minha sina impus.
Ideias de ser gente, ou igual ao lugar onde descando, eternamente, palavras o oxigénio transforma, gota de água descansa o mar insaciado, o sabor das lágrimas leva-me a qualquer lado.
Dividi o corpo com a alma, espírito fica sangrando, não mais... O anjo caminha este prado, paisagem do céu manipula o espaço, de todas as esferas que vi, escuridão e luminosidade, fica-me este cenário inacabado, ser humano, pecado.
A porta abre-se pesada, rangendo, são os dentes cerrados abandonando o presente para reflectir novo mundo, o ser humano encarnado.
Pela primeira vez ouvi, ou senti, mãos dadas em contigência do tempo presente, o ser amou e odiou, a esfera de vidro o sol trespassa, bainha de espada guerreira, os corpos deitados, alegoria desta farsa.
Componho a peça, torneando as páginas que a paisagem deste livro encenam.
Surdo, não ouvi os sons, desesperado corro apressadamente, agarro o título deste livro, brasão da minha existência a descrever o mundo.
Sem distinção, realidade ou fantasia, surge na magnitude da luz que se deita, um ser imaculado, eterno, movimentando as asas conquistadas do céu, batalha da vida, deixamos de ser humanos abrigados na luz que um Deus nos deu.
Resta-me ficar, alimentando as vozes deste teatro no assombro das mãos que gritam, clamando por socorro.
Era o anjo... Partiu.

Fiquei.

Paulo Themudo

20 de janeiro de 2008

Paulo Themudo / Fui... O Que Já Não Sou!...


Será já no próximo dia 1 de Março, pelas 17.00 horas, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos o lançamento do mais recente livro do poeta Paulo Themudo, intitulado “Fui… O que já não sou”.
O poeta, já com duas obras publicadas, “Repousadas mãos que sentem”, 2005 e “Silêncio transparente do meu corpo”, 2006, atinge, com esta obra, uma antecâmara de maturidade poética; Xavier Zarco, que prefacia a obra, desvenda na poesia de Paulo Themudo os traços comuns da sua construção poética com a sua faceta de artista plástico. “Conheço a Poesia do Paulo Themudo há escasso tempo, o suficiente, ou talvez não, para poder afirmar que estamos perante um caso raro de sensibilidade, de capacidade de nos pintar, talvez contaminado por esta outra sua vertente artística, os sentimentos, as sensações, mas num espaço, num cenário.
As suas palavras desfilam perante nós como se fossem traços, delineando primeiramente o palco, a moldura, a tela onde as diversas sonoridades, matizes vão adquirindo forma, cada vez mais definida.
E há a gestação de um sereno movimento, um leve abrir de asas ou o jogo de luzes que nos desvia o olhar, conduzindo-o por um rumo pré-determinado. Agora, que o quadro, o poema cessa com a derradeira palavra, resta-nos esta estranha sensação de termos estado lá dentro, naquele espaço, com aquelas sensações que não sendo nossas, as sentimos como tal.”

Recorde-se que Themudo é também pintor; aliás, paralelamente à apresentação do livro, decorrerá nas galerias da Biblioteca Florbela Espanca uma mostra dos mais recentes trabalhos plásticos do autor.

17 de janeiro de 2008

"Não Há Palavras Proibidas"

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
são pássaros em fogo em suas mãos

que se fodam os versos castrados
nados do servilismo
do comércio
das vinte moedas de judas
traindo o poema
ferindo-o de morte

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
nascem para ser ditas ser cantadas

até as putas
que se exibem nas dobras do poema
em cujas tetas mamam as metáforas
as luminosas jóias da coroa
ocultas em quarto fechado
bem longe da plebe
merecem o olhar do poeta

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
são pétalas brilhando para o sol

e digo
que não se vire a cara ao miúdo
que esmola pede à beira da estrofe
nas suas mãos respira o verbo
a palavra fome
e há que dar-lhe espaço
no corpo do poema
que salta para a rua como pedra
contra as vidraças da indiferença

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
têm no olhar a urgência do parto

e reclamo exijo
que todas as palavras se amotinem
não temam o chicote o capataz
a voz dos bufos dentro das paredes
porque é arma o poema
granada que rebenta nos sentidos
quando as palavras livres esvoaçam

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
mas todas as palavras são das ruas

Xavier Zarco

11 de janeiro de 2008

Paulo Themudo no Estúdio Raposa

O "Estudio Raposa", mantido pelo Sr. Luís Gaspar, dedicado exclusivamente à récita de poesia que ainda não chegou ao estrelato, acaba de postar récitas de algumas das minhas poesias.
Fica aqui o meu eterno agradecimento ao Sr. Luís Gaspar pelo momento que me proporcionou, de beleza, de melodia com voz poderosa.

Convido-os a ouvir este valioso trabalho de declamação no link abaixo:




Paulo Themudo