29 de maio de 2008

“Os Olhos São Siameses das Mãos”

Minha nova fronteira, este sonho que não me dá paz.
As aventuras que criei logo se deixam evadir por recados, a minha maior loucura nunca olhar para o lado, a porta entreaberta deixa-me o rosto enamorado.
Sou desatento às tuas danças, o sangue quente penetras, seduzida nas mãos escravas, do teu corpo, mãos ternas.

Real seria olhar sem ver, da nudez do teu corpo mergulhar em ti e desaparecer.
Falo distraído, consumido na luz que vibra no sangue do vento, estrada lamacenta, deito-me sereno, o corpo evade-se, a eterna morada, meu sustento…

Os olhos são siameses das mãos, o sexo devora sem olhar a meios os pecados que navegam os teus seios, a paisagem que madruga os teus sonhos.
Contornos corporais, lapidados com estes olhos, diamantes puros e bravos, são furacão que te inunda com luz, jóia perpétua, a palavra amante.
Sensualidade, fugaz dos lábios, respiro fantasias, ilusão acordar ainda dia, olhar através das cortinas e só restarem sombras, para culminar insatisfação do tanto que padecia.
Sou sentimento escorrendo os teus cabelos, embalo os meus lábios nas linhas curvas do corpo, salivando por um sentimento.
Sou homem enlouquecido, no calor desses braços, vibra, árvore feita mulher, o dia será eterno, quase perfeito, enquanto os olhos se fecham me vejo deitado saboreando a beleza do teu peito.
Os olhos são diamantes brutos, acção, o corpo movimenta-se brusco, gemidos no ar ofuscam o brilho das estrelas, noite escura devolve à luz, imperfeições e impotências da minha fraqueza.

Os olhos são siameses das mãos, que comem, devoram insaciados, clímax o teu corpo deitado, aguardando, desejo fortuito, eu, teu amado.

Talvez agora, tudo tenha novo sentido, ou não, seja sonho onde venho deambulando adormecido, seja prosa, escrevi nas tuas costas o diário dos dias sós de Inverno.

Gostaste?

Pelo menos… Amaste?

Evito palavras estranhas, porque na sua qualidade são tamanhas, monstruosas quando se evadem das fontes mais ricas destas entranhas.
Evito dizer o que senti, esgotado, o pó circunda o quarto, respiro ofegante, abro as mãos designadas, exausto o corpo permanece inerte, aos pés da cama observo o chão, o espelho pálido concentra em si imagem, de fecundação, pornografia da minha humana condição.
De fundo uma melodia atravessa as paredes, vibram as portas, nas mãos segredos, a janela aberta deixa absorver o que resta dos cheiros.

Evito comentários, desaguam palavras sem significado, estranho o dia e a noite, são lugares desabitados, que mãos laboram o texto errado, da condição presente, inércia, o corpo saboreando o olhar deitado.

Quero ficar, sem medo, quero acreditar sem rodeios, quero nascer no teu ventre, sentir dos teus olhos o abraço eloquente.
Evito estar presente… Eu… Eu e as minhas paredes, choram inundando todo o espaço.
Palavras do meu tempo desaparecerão eternamente, deste precioso momento não restar mais nada… Senão…
Tudo!
Estando eu pouco demente, evitado e rejeitado para sempre…
Lembra-te…
Os olhos são siameses das mãos. Também amam, Também namoram, também te possuem, agarram e devoram.

Mesmo que…
Mesmo que sejas apenas um sonho a viajar o mar agitado que é sangue que ferve nas minhas veias.

Não te preocupes…
Eu volto.
Eu sempre volto.

Paulo Themudo

27 de maio de 2008

“A Palavra e os Corpos!”

Brutal!...

Tecido humano, novelo de sangue, coração triunfante, namoriscando a natureza entediante.

Animal!...

Instinto, sôfrego, sentimento de pedra, lugar de sonos profundos, grão tecendo com novelos de vento, nova armadura.

Soldado! …

Implacável, ser vivido desfruta, sabor de um fruto, pútrido só por si furtando as lágrimas desta natureza.
Ser da chuva, as correntes espirituais abraçam, luvas negras são mãos que estilhaçam, a minha guerra!

A minha guerra!
São as palavras...

Sinto-me ir, devastando tudo à minha volta, cumpri o silêncio, fecundei o pensamento entornando nas mãos de pedra a erosão do vento.

Sentimentos...
Tenho tantos!
Sou construído de tantos!

Tenho para mim, egoísta, passos irmãos, consumados, extasiados no tempo.
Irmãos de alma... Feitos de palavras.

Palavras! …

Brutalmente maltratadas, inconscientes, assinadas! As minhas palavras feitas de tantas moradas.
O edifício sou eu, ao cimo, nuvens de pó e desatino, minha tortura, olhar os dedos, não ter pintura, observar orvalhos da natureza, caindo, sepultando as terras removidas, meu silêncio, minhas palavras! Meu incenso!

Os olhos!
Emolduram certo momento, choro ecoa as paredes do universo, espaço encantado e sereno, são essas mãos onde acordo...

Mãe.

Lá longe, sangue corre nas veias, é o íntimo da poesia conquistado, alma segura cai sangrando, o último beijo foi meu pecado.

Guerra! Meu pai... Nasci!

Será que sabendo, será que implacavelmente me contendo, te entrego... Me dou e não recebo, não me nego.

Amo! Amo! Amo tanto! ultrapassando todos os limites do sentimento.
São as palavras... São as palavras!

Bestas!

Medonhas, enfarte, miocárdio sufocando, é velha gente!
Por falta de palavras! Por falta de palavras, vai-se só e indiferente...

Os velhos!
São como crianças, pedintes de sorrisos e lembranças.
As crianças! …
As crianças são palavra, na boca dos velhos!
São vida no início da vida, neste tempo que lâmina golpeia sem desdenho, onde não há nada... Nem mesmo palavras.

Estou cansado! Estou farto!
Lastimo minha última morada, que foi céu aberto, sorri com esplendor, a foice da solidão estanca-me o sangue, a alma percorre todos os cantos, sou serpente maligna saboreando de um corpo...
Pecado! Humano! Pecado!...

Bela donzela, fica-me o nome, o fruto amargo como fel dá-me desespero.
Ouçam-me os céus, ou algo mais poderoso e infinito...

Cortaram-me a língua!
As mãos trémulas, elevam-se gracejando, olhos cegos em pose segura, suplicam...
Despedem-se...
Estão as portas do universo cerradas, almas viajantes sem moradas, as estrelas são as soberanas do novo mundo!

Palavras!...
Só mesmo um Deus as poderia derrotar!

Estou cansado!
Farto de ser uma besta! Animal! Brutal! Soldado! De ser Palavra!... Um sonho…

Um sonho bom, ou um sonho mau.

Paulo Themudo

22 de maio de 2008

"Depois Das Lágrimas... Que Bebi"

O chamamento, a queda solitária, bebo à saúde dos deuses, penetra-me as veias como sangue perdido, muralhas escaldantes enfeitiçadas de sol, são o meu corpo...

Transpira, respira fúnebre, visão das ruas, o copo da alma dá-me de beber sem caminho.

Rosto, decência, farto de ser mendigo, acordo não dormindo, tomar dos olhos senis um trago de vício, sou velho! Tenho poemas e lemas de criança infantis! Sou grito que respira a tua sede de sonhos, sou ser... Humano descobrindo, abrem-se cortinas, cego no passeio descalço, correm agarrando estrelas, os meus olhos...

Vivo a sombra das miragens, oásis planetário da noite embriaga-me, estas gentes que passam despem-me os jornais que em noite irrequieta enfeitam corpo de papel, palavra sem sabor, nas mãos dos Deuses, Clamo, Grito alto! O grito aflitivo e sufocante da sede desta poesia furtando.

Ficam sombras, oferenda, coração humano, de gente humana... Gigante! Do tamanho do grito! Desespero, não ser mais gente.

Agora o sabor é insípido, da cor das lágrimas transparentes, decorando vagas de mar incandescentes que são os olhos cegos balançando nos braços efervescentes, do sol...

Estou velho! Ouçam! Estou velho! Tenho medos! Tenho sed... Sim, como de um deserto se tratasse, tenho tanta sede!

Minúsculo raio de chuva namora a singela nuvem que passa desamparada despindo os meus olhos.
O vidro opaco, projecta imagens, vivências em mesa cheia, do líquido, vertem as mãos transpiradas a última réstia de grito.

Perdoem-me... Perdoem-me os Deuses se não me contive. Mas quis... Quis encharcar a alma com sonhos embriagados de pesadelos, quis ser louco, desenfreado mastigar as correntes do vento, namorar o ar refrescante, nadar a vaga de mar, ilusão...

Solidão a idade dos tempos me permite, dizer assim, que sim... Que nasço no dia em que morri. Cheio de sede! Cheio de medo! Cheio de frio!

O pedaço de Jornal noticia-me, a necrologia, acredito agora, sim, seriamente que bebi em demasia da poesia dos sonhos, para deixar de estar, aqui...

Paulo Themudo

16 de maio de 2008

"Psico - Novela"

Quem sou eu?

Novela escura, preto no branco, a sépia do tempo emoldurando fragmentos vivos de poesia.
Eu sei, respiro lá no alto, um lugar, a criatividade do sonho transforma o pesadelo, algas de mar são os meus cabelos, as rochas um coração que não se move, o sal, as lágrimas que despi nas primeiras vagas de um lugar sem luz.
Praia deserta, lugar dos desabafos, o mais minúsculo grão de areia é palavra, furtada em silêncio comedido em noite escura de luar adormecido.

Quem sou eu?

Um predador de sonhos, um agressor dos sonos, pintando telas desnorteantes, agitando os corpos que aqui se levantam, recolhendo para mim o esplendor, inocência ou permanência de uma qualquer alma.
O saco cheio, furtei sem dignidade, o mais minúsculo sentimento transformado, ódio, palavra certa para este ser da escuridão, condenado.
Há um altar, um Deus que desconheço fazendo frente, coro de vozes respirando, pintura da vida foi meu momento, os braços gigantes correm velozmente, eu segurando a taça religiosa, este sonho é pesadelo que me afasta o tempo. Um tempo onde vivi, amei e odiei como toda a gente, pintei sem medos o que vi, escuridão da cela onde alma castigada se encerra, a pintura arde insaciada nas vagas insultuosas do mar que namorava.
Sem sentidos, rascunhos são os dedos laminados, como espadas rasgando páginas, vorazes as mãos exaltam em si o prodígio das prometidas lembranças… Lembrança de ser alguém!

Quem sou eu?

Um fogo que vibra, ódio insatisfeito minando o dia com palavras de heresia.
Santuário, demandam de um Deus maior menos cansaço, da vida que vivo, ficam…
Ficam paisagens chocantes, criança brincando no luar agarra o que resta da maresia, meus olhos salgados compõem versos e devolvem à vida, nova narrativa.
Paisagens, mergulham os meus sentidos, luz maravilhada, escuridão de outro dia, os passos inventam o caminho, mudanças, namoro o sol e a lua, embriago-me nas lágrimas impacientes, cegueira do mar eloquente, visto a moldura triste, asas voam maravilhadas, elevei-me a um ser superior, senti… Fui gente!
Sei lá o que é escrever, sei lá o que é viver, não vi telas para pintar, vi sonhos a desmantelar a paisagem destes olhos, que só queriam … Amar! Abraçar a novela da vida, viver sonhos, contornar a fantasia, dar cor ao mundo!
Deixem-me delirar, assim não deixarei este trono, no auge da minha espiritualidade asas zangadas levar-me-ão daqui para uma nova morada.
Fartei-me e derrotei-me, cegueira tapa-me o que resta do sabor do vento, as mãos descalças são permanência, deste ser que esteve sempre ausente.
Alma saboreia das vagas dos meus olhos, alimento de um Deus superior meu corpo dilacerado, nas mãos de qualquer gente sou fragmento, carência de afectos, os pés andarão sempre descalços, o vazio as rochas poderosas preencherão, enquanto eu… Enquanto eu for vivo as novelas reais da vida serão ilusão.

Quem sou eu’ Quem sou eu?...

Vasto de segredos, traço a vermelho o rosto que me tornou pesadelo, misturo as cores, são palavras de desespero, a moldura preenchida é rasgo incompleto do que não percebo.
Poeta, pintor, voz psicológica sem cor, agarrado às correntes do mar nunca dantes navegado, meu pesadelo, não me lembrar de ser criança, ser homem, destinado ao que todos sabem, impedido de sonhos ou ilusões.
Corri os céus, voei o tempo, na cela da minha alma deixo palavras, para que me possam compreender o momento… Sou gente, sei, apenas poderei dizer que sou gente.

Quem sou eu?

A vaga do mar, a palavra que sangra, o alimento do pesadelo, sonho vão, sangue, alma, o que não se vende, eu… Sou o que se esqueceu de ser alguém.
Paulo Themudo

13 de maio de 2008

"Rio de Sal" - Luis Ferreira - Edium Editores


No próximo sábado, 17 de Maio, pelas 17.00 horas, na Biblioteca Municipal do Barreiro, será lançado o livro "Rio de Sal" de Luís Ferreira.Obra e autor serão apresentados pelo poeta Xavier Xarco.

"O Outro Céu"

Nuvem enclausurada no mais divino, as mãos erguem vontades de rei num palácio cristalizado e vestido de sol.

Minha nova morada…

Ousada a vaga de mar verte o corpo excitado que mãos sinceras elevam, cavalgam as novas moradas do céu, sou cavaleiro do tempo numa armadura de vento.
As gentes, meu trono… O fio desta arma enclausura a nuvem que logo se dissipa consumida pelo sabor da trovoada.
O livro sagrado, páginas desmitificadas, os olhos sangrando, os corpos caem, tão farto…
Poltrona onde sento o tempo, anjos de veste escura acomodam-se na cama onde me sento, o pensamento é ouro que flui nas veias irrequietas deste pesadelo.

A ala real afasta as cortinas… Deixem passar! Deixem passar!

Abrem-se as portas dessa morada, sonho enclausurado namora a vaga de chuva, são olhos de cristal que te constroem nas mãos de cavaleiro a moldura pálida de novo reino.
Sou rei, das estrelas inventadas em noite escura, que espada nobre meu corpo segura, batalha dos meus pensamentos a alma escura, são as vagas de mar ousadas que meu corpo enclausura.
Rei de nascimento, mendigo em prados sangrentos, da fome escura o momento fatal são os presentes, gente de medo conforta os prados ainda verdes, batalha de sol e de chuva, o céu vende pedaços de inferno, na nostalgia desta pintura ferida de Inverno.

De que cor? … Quem sou eu?

Um lugar sereno, a arma dispara cega de ódio, consigo ver as almas subindo, a nuvem escura alimentada, o céu tão gigante e tão pequeno.
Sou rei… Das paisagens um eco, a palavra recitada no palácio de cristal, é pó na poltrona emoldurada onde me cerquei.
Atrás de mim o pesadelo súbdito das minhas carências.
Céu e inferno, a gente humana cava sepulturas de silêncio, vida eterna a alma promete, vontade divina de um rei é para sempre.

Quem precisa de abrigo?

Abrem-se as portadas, a sala monstruosa acolhe fragmentos de alma ou gente.

Onde está o meu reino?

Tudo à volta é carnavalesco, o sol vermelho, o céu de cinza rasgando o olhar de quem o consome, ser rei… Ser gente, prisioneiro de um qualquer lugar.
Sim, ser rei não é mais que ser gente igual a outra gente.
Chamam-me plebe? Não chamam-me homem, com um lugar cativo em qualquer outro céu com janelas de diamante ou de vidro.
Bem - vindo ao Inferno… Dizem… Bem - vindo ao Inverno permanente, morada sem luz, poltrona de tecido moldada por gente.

Sua alteza… Esta é a sua nova morada.

Paulo Themudo

"Não..."

Não quero a insignificância,
Comprar palavras, sentir-me gigante.
Não quero a magia
Provar do horizonte o teu rosto distante.
Não quero ficar sem luz
Cair a tropeçar na louca escadaria
Onde te quis abraçar...
Não quero o silêncio que me comove
Com forças poderosas me arrasta as correntes
Do naufrágio vazio,
Que foi o meu coração a envelhecer
Noutro tempo.

Não quero ser mão poeta
Rasgaar os teus lábios na tela gigante
Que pinto,
Nestes sonhos com que me acordas as noites.

Não quero suplicar por ti.
Não quero modificar o que há em ti.
Não quero sufocar sem razões para ficar.
Não quero o teu slêncio.
Não quero não saber quem és.

Não quero ter de suplicar
Com que palavras me hás-de acordar.
Não quero gastar o tempo
A correr fraquejado o teu momento.
Não quero ser indigno.
Não quero ser perfeito nas tuas mãos.
Não quero ser mendigo.
Não quero escrever a poesia.
Não quero tingir a tela
Onde naufraga a obsessão do teu nome.

Não...

Não é obsessão.

É amor... É amor...

É amor.

Paulo Themudo in "Repousadas Mãos Que Sentem" - 2006

"Não Fui Além de Mim Nem do Tempo"

Fatal momento
Será distante, casualmente eu,
Não passarei de um pensamento.

Fechado na noite
Olhos de vidro respiram chuva,
Brilho de Inverno,
Nuvem suja de pó,
Qual alma serena de perder sem dó.

Fatal momento
Das portas abertas
Das cercas da minha guerra
Despedida terna, amada flor
As tuas mãos são névoa.

Desiquilibrado o dia
Da terra para onde parto
Ausenta-se nua e fria
A alma insistida
Com que me vestia.

Queria não parar de correr...

Fatal momento
Entorna-me o beijo, desalento,
Vâ esperança, ser espírito livre
A vaguear o teu pensamento
Sem asas feridas, voar o tempo.

Um tempo que não passa.

Designado a não ser nada
Sem olhos, chama viva e clara,
Coração embala distâncias
Da arte não sou mais nada
Deixo ao teu critério, esperanças.

Fatal momento
Experimenta-me do silêncio
Contendo
Luz da vela onde te respiro
Suor do corpo onde me abrigo.

Queria não parar de te ver...

E nunca desistindo
Afogando o pensamento triste
Acordada a alma cansada
Estou convencido, respiro,
Deitado a teus pés
Sinto-me a alma mais amada.

Fatal momento
Deixa-me a pensar...
Quero estar aí.
Quero acordar.

Queria não parar de te ver.

Paulo Themudo in "Silêncio Transparente do Meu Corpo" - 2007

"Mergulhei o Horizonte"

Atormentado, evitando o desígnio
A dor, solta-se, gritando,
Transpira a alma segura, domínio
A morte deixa um sabor inevitável.

Sinto-me engrandecer
Os olhos vertem, os...
Os olhos sentem, mergulhados em mim,
A maré revolta-se, os corpos nus.

Eu e os meus dragões
Ou eu e, os meus fantasmas,
Deixo aqui pegadas
Palavras ensinadas, sacrificadas.

Atormentado, evitando o destino
Fico esperando, quando penetras em mim
Química desigual, parece o fim,
Sinto-me engrandecer, enfim.

Eu e os meus sonhos
Desastradamente aos encontrões
As paredes sujas de palavras
Foram os sonhos assassinados, emoções.

Cresci e mergulhei no que vi
Vontade de navegar os teus seios
Loucura, filosofia, tenho medos,
Mergulhar o corpo e não ter meios.

Atormentado, por não ser nada,
Seja: Por não ser nem saber nada,
A dor rasga-me, as veias sangram,
As palavras são agora, alma, estrada.

Eu e os meus pensamentos
Deitado no horizonte despido
Vingo a aurora com momentos
Divago silencioso, olhos, o sorriso...

Atormentado, mergulho a vida,
Um prazer imaculado, teu corpo,
Envolvência sinistra, será meu um dia...
A morte deixa um sabor inevitável.

Sim...

Estou morto.

Paulo Themudo in "Fui... O Que Já Não Sou!..." - 2008

12 de maio de 2008

"O Preço da Alma"

Palavras…
Da varanda perdida do meu mundo, horizonte adormecido nestas mãos calmas que olhos de verão acordam.
Não tenho palavras caras! Não as conheço… A alma inflige um movimento fatal que mão de Deus desenha a traço fino, o rumo, horizonte padecido de sonho amarga a voz deste silêncio reinventa o meu esconderijo adormecido.
Dentro de mim vivem e morrem todos os dias, são desenhos de flores sem cor, sombras gigantes de medo estendem os tapetes vermelhos da minha realeza inadmissível.
Sangue nobre guarda as veias, palavras são nada ou mãos cheias, do pouco que a calçada oferece, meu alimento é o tempo.
Não tenho palavras caras! Tenho fantasias, castelos dominados por princesas, dragões lutando com os meus fantasmas, espelho absorve desta face pálida o que resta de ser tudo ou nada.
Acordo, sonâmbulo todos os dias, tropeçando, deambulando num copo de água que é a minha sede absorvida.
Sou criança, nasci agora, não vi nada, as garras desse vento debatem-se nas costas sofridas, o coração consome, alma gasta, palavras velhas, são estas, resultados de ilusão e mentira.
Tenho este sentimento, tenho esta fé em mim, nasci a acreditar que vivendo o sonho nada mais teria fim, mesmo nos dias em que acordo apático de mundo e de todos, tomo ainda o gosto de algumas palavras, esperançado que o livro que as mãos lavram com recados, tenha finalidade.
Não tenho palavras caras! Tenho as minhas, que são a face, que são o choro, que são silencio, que são verdades ou mentiras neste sonho assombrado onde me escondo.
Estico os braços, a varanda perfeita, voam no ar versos, são a minha vestimenta, de alma que se deita.
A varanda do meu mundo espelhos redundam, a paisagem, fantasia e sonho numa só imagem. Os meus gritos confundidos na brisa que passa, palavras…
Queimadas, carenciadas, são as minhas, não são devotas sensatas, muito menos caras!
Entretenho os dedos, jogando ao ar pensamentos, são crianças que correm desesperadas para a boca de um Deus, só meu!
São estradas que principiam sombreadas, estendidas nas mãos iluminadas de um qualquer anjo no percurso de umas escadas.
O céu suplica-me essas palavras, as que eu não dei…
As minhas palavras, não são palavras caras! Mas…
Talvez na pronúncia deste meu silêncio, a alma nobre dê sujeito ao sangue, estes olhos cansados de chorar, tão tristes de ver o mundo, sonham! Sim… Sonham!
Haverão sempre crianças nas minhas palavras, haverá sempre caminhos nas estradas, mãos cansadas serão sempre alimentadas, nada faltará, jamais! Enquanto eu…
Enquanto eu tiver palavras, mesmo que não sejam as mais caras!
Paulo Themudo

7 de maio de 2008

"Antologia 2008 Amante das Leituras" - Edium Editores


A edium tem o prazer de anunciar a edição da Antologia Poética 2008, Amante das Leituras, para o próximo dia 31 de Maio. Este ano, a Antologia contará com as participações dos seguintes autores: Alexandra Oliveira, Ana Maria Costa, Carlos Alberto Roldán (Argentina), Carlos Luanda, Denilson Neves (Brasil), Geraldes de Carvalho, Jorge Vicente, José-Augusto de Carvalho, José Dias Egipto, José Gil, Manuel C. Amor, Maria João Oliveira, Maria Rita Romão, Mónica Correia, Paulo Themudo, Samuel Gomes, Túlio Henrique Pereira (Brasil) e Vera Carvalho.