15 de abril de 2008

"Perdoem-me os Versos"

Condição primeira, olhar em frente, varrer o escuro aflito que trava batalhas neste espaço circunscrito onde me desenho.
Primeiro passo sacudir as mãos, caem no chão os pedaços, fragmentos dos versos lapidados, a vida que vivi esbofeteia-me com recados... Pecados.
Espaço, senti, as paredes criminosas recitam mais um poema, testemunhas, do tempo... Desse tempo.
Os braços abertos apertam os grãos de areia, meu deserto, mãos cheias de vazio, criança insatisfeita, dorme... Corre vagarosamente para velozmente saborear um sorriso.
Vi muito destas imagens, observei com rasgos de feitiçaria, que era o mar assassinando quem dava tudo pela vida.
Vi, sinistro, encanto imperdoável, mulher humana, criação, sou homem que modestamente a carne engana.
Condição primeira varrer a paisagem com os olhos, satisfazer o iluminado contido das estrelas onde grito... Grito! Procuro! Quase desisto...
Momento de tédio, as mãos não soltam, não... Não sai nada daqui, as celas são as palavras, as palavras que me desvendam e tão impiedosamente me cercam.
Sou vestígio de azul, sombras de medo deitam-se na calçada escura, lugar dos versos, a parede suja, as mãos insatisfeitas, assassinas, nada mais vale... De resto...
Vivi, sobrevivi, cansado, a luz entorna sobre mim o lugar abençoado, visões fluem o meu infinito, sou de resto... O que acredito...
O que acredito que varrendo o horizonte, deixo este pequeno mundo menos aflito.
O que acredito que o verso me derrota, é falso, entrega-me...
O que acredito, que o verso... Sou eu.

Paulo Themudo

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