25 de janeiro de 2008

“Pecado dos Céus”

Pela primeira vez, nesta vida que levo, decansando nos ramos do céu, lugar paradísiaco, provo o fruto intenso do corpo... Comunguei com o anjo.
A estrela que cai, rumando a um horizonte impávido de luz, sereno e cobrindo o rosto que à minha sina impus.
Ideias de ser gente, ou igual ao lugar onde descando, eternamente, palavras o oxigénio transforma, gota de água descansa o mar insaciado, o sabor das lágrimas leva-me a qualquer lado.
Dividi o corpo com a alma, espírito fica sangrando, não mais... O anjo caminha este prado, paisagem do céu manipula o espaço, de todas as esferas que vi, escuridão e luminosidade, fica-me este cenário inacabado, ser humano, pecado.
A porta abre-se pesada, rangendo, são os dentes cerrados abandonando o presente para reflectir novo mundo, o ser humano encarnado.
Pela primeira vez ouvi, ou senti, mãos dadas em contigência do tempo presente, o ser amou e odiou, a esfera de vidro o sol trespassa, bainha de espada guerreira, os corpos deitados, alegoria desta farsa.
Componho a peça, torneando as páginas que a paisagem deste livro encenam.
Surdo, não ouvi os sons, desesperado corro apressadamente, agarro o título deste livro, brasão da minha existência a descrever o mundo.
Sem distinção, realidade ou fantasia, surge na magnitude da luz que se deita, um ser imaculado, eterno, movimentando as asas conquistadas do céu, batalha da vida, deixamos de ser humanos abrigados na luz que um Deus nos deu.
Resta-me ficar, alimentando as vozes deste teatro no assombro das mãos que gritam, clamando por socorro.
Era o anjo... Partiu.

Fiquei.

Paulo Themudo

20 de janeiro de 2008

Paulo Themudo / Fui... O Que Já Não Sou!...


Será já no próximo dia 1 de Março, pelas 17.00 horas, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos o lançamento do mais recente livro do poeta Paulo Themudo, intitulado “Fui… O que já não sou”.
O poeta, já com duas obras publicadas, “Repousadas mãos que sentem”, 2005 e “Silêncio transparente do meu corpo”, 2006, atinge, com esta obra, uma antecâmara de maturidade poética; Xavier Zarco, que prefacia a obra, desvenda na poesia de Paulo Themudo os traços comuns da sua construção poética com a sua faceta de artista plástico. “Conheço a Poesia do Paulo Themudo há escasso tempo, o suficiente, ou talvez não, para poder afirmar que estamos perante um caso raro de sensibilidade, de capacidade de nos pintar, talvez contaminado por esta outra sua vertente artística, os sentimentos, as sensações, mas num espaço, num cenário.
As suas palavras desfilam perante nós como se fossem traços, delineando primeiramente o palco, a moldura, a tela onde as diversas sonoridades, matizes vão adquirindo forma, cada vez mais definida.
E há a gestação de um sereno movimento, um leve abrir de asas ou o jogo de luzes que nos desvia o olhar, conduzindo-o por um rumo pré-determinado. Agora, que o quadro, o poema cessa com a derradeira palavra, resta-nos esta estranha sensação de termos estado lá dentro, naquele espaço, com aquelas sensações que não sendo nossas, as sentimos como tal.”

Recorde-se que Themudo é também pintor; aliás, paralelamente à apresentação do livro, decorrerá nas galerias da Biblioteca Florbela Espanca uma mostra dos mais recentes trabalhos plásticos do autor.

17 de janeiro de 2008

"Não Há Palavras Proibidas"

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
são pássaros em fogo em suas mãos

que se fodam os versos castrados
nados do servilismo
do comércio
das vinte moedas de judas
traindo o poema
ferindo-o de morte

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
nascem para ser ditas ser cantadas

até as putas
que se exibem nas dobras do poema
em cujas tetas mamam as metáforas
as luminosas jóias da coroa
ocultas em quarto fechado
bem longe da plebe
merecem o olhar do poeta

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
são pétalas brilhando para o sol

e digo
que não se vire a cara ao miúdo
que esmola pede à beira da estrofe
nas suas mãos respira o verbo
a palavra fome
e há que dar-lhe espaço
no corpo do poema
que salta para a rua como pedra
contra as vidraças da indiferença

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
têm no olhar a urgência do parto

e reclamo exijo
que todas as palavras se amotinem
não temam o chicote o capataz
a voz dos bufos dentro das paredes
porque é arma o poema
granada que rebenta nos sentidos
quando as palavras livres esvoaçam

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
mas todas as palavras são das ruas

Xavier Zarco

11 de janeiro de 2008

Paulo Themudo no Estúdio Raposa

O "Estudio Raposa", mantido pelo Sr. Luís Gaspar, dedicado exclusivamente à récita de poesia que ainda não chegou ao estrelato, acaba de postar récitas de algumas das minhas poesias.
Fica aqui o meu eterno agradecimento ao Sr. Luís Gaspar pelo momento que me proporcionou, de beleza, de melodia com voz poderosa.

Convido-os a ouvir este valioso trabalho de declamação no link abaixo:




Paulo Themudo