28 de setembro de 2008

“Sou Uno”

A unidade é uma cerca que começa quando eu acabo.
Olhos de dragão tingem desolados pesadelos consumidos da alma errante que me vestiu.
No céu, reflectiu, onda de mar saboreia com lábios desdenhosos a aventura deste caderno onde vou tomando anotações deste tempo desatento, onde me cerco, rodeando multidões.
A unidade é um amor que começa quando naufrago.
A unidade do espírito banaliza-me, momento, vibro à pequena passagem das mãos que me enfeitam, terapia suaviza as linhas do corpo, sento-me...
Já chega!
Perdoem-me as incertezas, sou homem nesta aventura e desatino, carnaval de cores alheias, vestem o espírito, sou um sabor nos lábios descontentes, dor premente, presente sem futuro abraça o corpo despido, onde me deito...
Foram-me tão queridas, todas as viagens de silêncio que corpo aventurado se afoga em mim, inocente.
Foram maravilhosas, descontentes, palavras, pecado os meus lábios lapidam os pedaços de vidro teus olhos mastigam.
A lâmina dos meus pulsos, viola as palavras que adormecem nesta mesa redonda que enfrento.
A mesa do mundo!
Fatal, irreal, ficção desembrulha a laços sangrentos, oferenda dos homens crentes, sonho imaculado as mãos que me rodeiam, correndo aflitas para o meu corpo, unânimes e descontes, a cerca, olhos de serpente.
Meu pecado...
Provo o fruto do silêncio, acariciando as paredes assombradas, lugar de tantas ausências, os meus olhos são vivos, percorrem com sede, sufocando, o pequeno quarto guarda segredos... Os meus medos!
Sou náufrago da vida, velejando para um lugar qualquer, a minha liberdade começa quando Deus determina.
Alma passageira, esta, a minha, entorna nos copos escravos, pequenas lágrimas de decência.
Sou presente apavorado com o futuro que é o pequeno segundo que transforma o tempo em minutos devorando as horas.
A unidade é uma cerca que se fecha quando desabafo.
Perdoem-me... Perdoem-me, se eu... Se fui eu próprio não querendo olhar, tormento.
Perdoem-me quantas vezes forem necessárias, que o espírito vive além das muralhas, o presente descontente assombra as portas do futuro ausente.
Perdoem-me... Perdoem todos os homens, os homens que sonham, que transformam, que devoram silenciosamente o sabor da mágoa.
Ajudem-me... Ajudem-me.
Paulo Themudo

“O Tempo Reduto"

Tão verdadeiro, fome…
Criança escondida
Sufoca, no seu oxigénio,
Transpiram-se palavras,
Incógnitas, desespero,
Veste-se papel com medo.

Depois do céu, espaço,
Abraçam-me estrelas,
Dor, sinto, tenho olhos,
Olhos que roubam!
Minha natureza,
Fui imenso, imagem,
Fúria impetuosa, certeza.

Antes ser poeta,
Arma na mão, golpe frio,
Olhos enganados, sou escravo
Do que sou e não sou.
Meus olhos deixam um recado...

Depois de ser tudo
Não quis ser mais nada,
Iludi-me, iluminei-me,
Laborei a minha estrada.

A textura do caminho
Deixa recordar
Corpo, golpeado, meu sangue
Foi ao mar, naufragar.

E ainda tenho tantos medos,
Tanta fome de tudo!
Desejos, segredos,
Realidade, meu mundo...

Meus olhos
São galerias, cortinas abertas,
Em vida, o que resta dos meus dias,
Acaricio as mãos desertas.

O pensamento encontra
Na caricatura do tempo
Um lugar para os meus olhos.

Iludido... Fantasiei, dormi,
Teu colo um céu estrelado,
Caí, debruçado na luz,
Meus olhos, são agora, silêncio
Espelhado.

Houvesse mais tempo, eu
Memória, enganando o presente
Que é somente relâmpago de tempo
Permanentemente ausente.

Vou embora, soluçando,
A voz segreda-me aflita
Lugar dos sonhos, ilusão maldita,
Medo esfomeado, terror,
Sou corpo, sou nada,
Depressão do amor,
Imagem, possuo a cor,
Os braços sangram, e guerra,
Onde tudo acaba.

Eu quero sol,
Dormir, sentir os grãos de areia
Com que construo os meus castelos,
Moradas incertas, sangue, minha veia
Compõe o silêncio presente.

Desejando ser poeta, corri,
Outra vez só, cometi
Adultério com as palavras,
Infiel, preso aqui,
Golpeio o que resta de mim.

Foi falso, precipício,
Verdades contêm de mim
Frívolo pensamento, desdenho,
Quem sou, afoga
O Rio estranho, foi vida.

A vontade é um alicerce
À toa, a força, eu,
Majestoso brilho, socorro,
A alma corre a sala inebriada,
Os braços, abertos,
Alcançam lugares, a janela,
Meus olhos crescem, respiro,
O outro mundo, vivo.

Juro que não menti,
Queria apenas dois dias
Dizem a vida tem,
Quero vivê-los,
Aqui.

Farei verdade, da jura,
Este sangue imaculado, segura
No corredor das palavras,
O virar de um tempo,
Passagem solitária, meu ser,
Descalço, escondido, embriagado.

Foi falso, o início
Que não teve fim.

Acordar, tantas gentes,
Da minha pequena alvorada,
Brilhos, luminosos lençóis,
Daqueles que deitados, amaram,
Criaram, foram inocentes e dementes.
Não tenho signo, sou feito de areia,
Inimigo, vento,
Percorre-me o corpo diminuído
Por qualquer caminho.

Não paro, agora…
Está alguém, do outro lado,
Onde me encontro, choro,
Sorrio e me amedronto.

A vontade é silêncio que me veste
As mãos são
puras louvando,
Palavra, minha prece,
Arte mais antiga, ser homem.
Entregar ao tempo
O que lhe apetece.

Juro que não me vendi,
Queria apenas dois dias
Dizem a vida tem,
Quero vivê-los,
Aqui.

Porque consigo, amplitude,
Abraçam as obras, são meu corpo,
A carícia, são olhares,
Apetecíveis as mãos que vestem.

Não me deixo cair,
Flutuo, assombrando o inimigo,
Céus escarlates, perigo, batalha
Meu coração enobrece, dizendo…

Sou voz semelhante
Ao reino evidente, puro, somente
Dos céus evidenciados, sou amante
Logo a voz desperta,
Parecia eu, areia, palavra
No pálido da memória,
Traços, mensagens,
Hieróglifos evidentes
Da minha hierarquia pendente.

Vestido de Deus,
Afogo, a terra acode,
Ateio, observo, incendeio
Corações, vivo!

Vestido de mim,
Acordo e respiro.

Quero ao mundo dar
Quero ao mundo falar,
Acosto à praia deserta dos meus versos,
Eis que me revejo ressurgir da areia,
Meio humano, meio gente,
Meio desejo, meio inocente…
Quero os dias!
Quero ocultar as verdades das mentiras!

Deixem-me fantasiar,
Iludido, ser,
A criança insistida
Que anda em mim.

Juro que não me escondi,
Queria apenas dois dias
Dizem a vida tem,
Quero vivê-los,
Aqui.

Perdoem-me, tamanhos versos,
Não hesitei,
Atirei para aqui,
Tudo aquilo que senti!

Paulo Themudo

“Medos Inocentes”

De tal forma me senti invadido, por tudo e por nada, ser, meu testemunho são palavras desfasadas, contexto de vida desamparado nos versos esgotados que o mítico silêncio derrota.
As estradas são feiticeiras, invertem-se, paisagens são crianças nuas de esperança, vi-me, de negro semeando a calçada.
A foice da morte, degola-me o rosto da palavra, era medo, tudo, era medo, nada.
De tal forma me surpreendo agora, o mundo, o fim do mundo, como me custa, como me dói.
Pensava que era um herói, fictícia seria apenas a palavra a testemunhar, quem sou, fui, não vou daqui implorar ao céu, reino das minhas veias, são fantasias iludidas crescendo, fazem de mim, vestígio, sombra, louco padecendo, humidade nas janelas do meu mundo, é chuva que chora chamando por mim, sem demora a torre ao alto projecta sinais, embarcações dos meus sentimentos, amores, ódios e raivas, fulminam no meu corpo, as palavras ausentes.
Uma maré cheia de corpo, a alma pedinte silencia agora o resto de caminho, paisagem personifica a idade do mundo, sou ser que caminha, inundando as vozes cruéis com destino.

Tenho medo! Tenho dor!
Tenho uma vontade de sair, desistir, acabar, fechar os olhos, dormir…
Não acordar.

De tal forma me invadiram as pessoas, com tantos gestos, mímica descalça-me, mãos desesperadas de verso, tenho sentimentos loucos!
Sou no entanto, a alma mais pedinte, um ser desatinado surripiando palavras à boca da lua, beijando seu lábios, ninfa nua, sou feitiço nessas mãos que cobardia indesejada me deixa à deriva, à procura…

Não fosse feito de gelo, calor que queima, sou morte e vida, o reino das tuas mãos é silêncio que me obriga.
A ternura assombrou, meiguice, veludo teu corpo transpirado, eu choro ao canto da palavra que me hão roubado.
Não será em vão que esculpo os meus medos, não será desmedida esta ausência do nada, serei fortuna nos olhos, voz que agita o silêncio perturbador da madrugada.

Deixem-me! Larguem-me!

Deixem-me ser fantasma do meu coração, deixem-me ser lágrima tecida de ilusão, deixem-me ser o caminho, a vida, o momento, a pintura desfalecendo sem emoção.
Não fosse feito de tudo e nada, não fosse sucumbido pela trovoada, não fosse eu, humano!
Não fosse entrega desesperada, deste tempo que naufraga, nas veias de sangue, que são nada menos, que vontade amarga de verso numa loucura plagiada.

Perdoem-me! Perdoem a criança!

Levem-lhe o que não viu, entreguem-lhe o que não fui…

Sorriam! Sorriam!

Criança corre o prado dos seus sonhos, acorda sem ver nada, seus pesadelos são meus medonhos.

Não ter pai não ter mãe, não ter nada!...

Venham!

Socorram o olhar que castiga a alma, ouçam a palavra de esperança, da criança que navega este meu corpo, numa crença monumental, num reinado virtual, minha vida…
Vontades rítmicas de ser, pousadas de velhice, caminhos gastos, naufrágios, demência, pecado, ter nascido criança….

Não! Deixem-me ser quem sou! Deixem-me ser criança!

Deixem-me! Que um dia, também eu, me vou…

Daqui para onde? Que lugar acolhe quem foge tão repentinamente de um silêncio povoado de vento, que se move, levando o corpo, acariciando as mãos que pedem, mérito, não fui mais que alguém, desistindo prontamente, sucumbindo nas mãos sonhadoras de alguém.

Vibro!

Passagens de um tempo, são filmes, criei, emoldurei nas vozes minhas, nas palavras que acarinhas, encarcerei para sempre, a inocência, o medo, aventura, eu…
Sou um conquistador, rei de mim, senhor do meu corpo, lavo palavras nos rios, invento sensações, crio desafios, vou-me, foi destino.

Atacam-me com violência, rasgam-se páginas de vida, incendeiam-se misturas de tempo, sou, apaixonado ainda pela vida, evito, sou eternamente criança, sou deleite de um olhar, arrojado, principiando o caminho da vida.

Deixem-me ser criança!
Deixem-me libertar a criança que está em mim!
Deixem-me não ser mais que lembrança!

Deixem-me!

Deixem-me ser assim!

Paulo Themudo

3 de junho de 2008

"Quatro Paredes e Um Sonho"

Desastradamente a encontrar um lugar, sensibilidade do ser cristalino, água pura leva aos lábios carnudos mais sede, horizonte agoniado saboreia os últimos instantes de um momento desnecessário.

Fui filho sem pai… A montra das palavras constrói-me o livro, um lugar mais altivo, tesouro, as palavras que soltei ainda que quase desistindo.
O espelho vermelho saboreia este sangue que horizonte despido vai pintando com cores azuis de céu padecido.

Fui filho sem pai… Montanha movendo silêncios, sede de sorrisos, criança assaltando inadvertidamente retrato de infância onde quase fui gente.
Sou o herói que te salva da fogueira, maior pecado sentir, a vida em desgarrada mergulha em mim numa nostalgia incapaz, poema bate asas, nova morada o silêncio comedido dos teus braços.

Bola de cristal, plano gigante, observo para além do meu tempo onde me vejo, sentado ao lado de um pai, o pai que nunca tive!...

Horizonte agoniado perpétua nos braços seus a imagem fictícia com que me recordei…
As palavras enfeitam esta miragem, quando olho para os lados não vejo nada, os cotovelos do rio levam as lágrimas, choradas e sentidas, procurando um anjo qualquer.

Sou ser navegante nas ondas do vento, tão-somente me derrotaram as ilusões e as fantasias, os sentimentos, brotam de mim como braços carentes, alimento, a paisagem que se desnuda enquanto observo.

Fica-me a calçada, rua escura onde tantas vezes me deitei, agoniado o pequeno candeeiro enfeitiça a tela gigante, filme da vida, criei.

Senti-me tão inútil e só.

Sobrevoo a paisagem interior do meu corpo, espelho vermelho, meus olhos, tremuras, rosto pálido, o buraco escuro onde me atiro, não deixo nada de mim, sentido…

Abrigo, um lugar coerente, recado incisivo, golpe das mãos atiram-me ao chão, destruído… Criança, os pés sangram, caminho sem estrada, olhei, não vi, a noite escura é onde me retiro, meu lugar… O fim do mundo, castigo.

Fui filho sem pai… Tantas vezes adormecido, acordar o sol reflectindo, braços quentes, pareciam raios de luz distantes, as palavras meu único universo capaz.
A cela, palpitação, as palavras habitam em mim, vivo decorando quatro paredes, mudo, surdo, sugam da alma pura o que resta de decência, farrapo, não sou nada, pedaço humano derrotado, carne, alimento do ódio, sou pobre…

A floresta de fogo, meu ultimo sonho, mãos enfeitiçadas, meu ultimo pecado, atravessar o espelho vermelho, que é minha alma castigada, a boca selada, os olhos apáticos prisioneiros do sono, o sono profundo, sonhos prisioneiros do pesadelo são o que restava…

Meu grito sem voz! Que fiz eu?

Fui filho sem pai… Fui criança, vivi sonhos, brinquei desde cedo com palavras, ficou-me naufrágio, solidão e carência…

Mas sou carne! Sou carne humana que alimenta as paredes deste cerco, minha morada…
A depressão, as linhas que vou marcando, caderno diário, vivi esgotado, surrealismo, incompleto, onde foste?

Meu pai…

A solidão senta-se à mesa devorando sentimentos, tristeza, bebe o meu sangue, minha alma, sobremesa, edificam-se incertezas, as paredes observam cada gesto, sonho reflectido, quanto resta… Levaram-me tudo!...

A um canto, o feto, as palavras procriaram dando lugar ao universo…

Sou um monstro!

Sangue do meu sangue, sou pai, do universo tamanho que incertezas revelaram, espírito, estas palavras são minhas…

Fui filho sem pai… Com tanto para contar, com tanto para dar.
Consumiram-me, devoraram-me, desprezaram-me, espezinharam-me…
Dei tudo, não restou mais nada.

Complexidade depressiva, os dedos ao ar imploram clemência, juízas, palavras atiram-me à cela dessa vida, tribunal dos justos, o sonho de criança não passa de pesadelo viajando nas mãos do verbo. O verbo onde nasci, castiguei com sede humana, tela, cortina desta existência, pintei percursos, a solidão senta-se à mesa, dialoga com o ódio, conspiram contra mim…

Ou contra o mundo?

Silenciosa, um pouco de ânsia é entornada nos copos ilusórios, bebem-se os recados com que enfeitei as palavras, a palavra é arma mortal, a mesa, um corpo nu, violado.

No meu cubículo, observo, encobrindo o corpo com cobertores de paixão, sorrindo maleficamente, qual louco saído do hospício.
Palavra de fome mastiga o ódio, ansiosamente, sou ilusão semblante observando significado gigante, poderoso, do que vivi…

Atravesso o espelho vermelho, corpo nu, virgem…
E, quando chego ao outro lado, só vejo fome! Só vejo dor!...

Calma…

Sou pai, sou pai, tenho amor, poderoso, para colmatar sofrimento e dor deste novo mundo.

Meu filho…
Paulo Themudo

29 de maio de 2008

“Os Olhos São Siameses das Mãos”

Minha nova fronteira, este sonho que não me dá paz.
As aventuras que criei logo se deixam evadir por recados, a minha maior loucura nunca olhar para o lado, a porta entreaberta deixa-me o rosto enamorado.
Sou desatento às tuas danças, o sangue quente penetras, seduzida nas mãos escravas, do teu corpo, mãos ternas.

Real seria olhar sem ver, da nudez do teu corpo mergulhar em ti e desaparecer.
Falo distraído, consumido na luz que vibra no sangue do vento, estrada lamacenta, deito-me sereno, o corpo evade-se, a eterna morada, meu sustento…

Os olhos são siameses das mãos, o sexo devora sem olhar a meios os pecados que navegam os teus seios, a paisagem que madruga os teus sonhos.
Contornos corporais, lapidados com estes olhos, diamantes puros e bravos, são furacão que te inunda com luz, jóia perpétua, a palavra amante.
Sensualidade, fugaz dos lábios, respiro fantasias, ilusão acordar ainda dia, olhar através das cortinas e só restarem sombras, para culminar insatisfação do tanto que padecia.
Sou sentimento escorrendo os teus cabelos, embalo os meus lábios nas linhas curvas do corpo, salivando por um sentimento.
Sou homem enlouquecido, no calor desses braços, vibra, árvore feita mulher, o dia será eterno, quase perfeito, enquanto os olhos se fecham me vejo deitado saboreando a beleza do teu peito.
Os olhos são diamantes brutos, acção, o corpo movimenta-se brusco, gemidos no ar ofuscam o brilho das estrelas, noite escura devolve à luz, imperfeições e impotências da minha fraqueza.

Os olhos são siameses das mãos, que comem, devoram insaciados, clímax o teu corpo deitado, aguardando, desejo fortuito, eu, teu amado.

Talvez agora, tudo tenha novo sentido, ou não, seja sonho onde venho deambulando adormecido, seja prosa, escrevi nas tuas costas o diário dos dias sós de Inverno.

Gostaste?

Pelo menos… Amaste?

Evito palavras estranhas, porque na sua qualidade são tamanhas, monstruosas quando se evadem das fontes mais ricas destas entranhas.
Evito dizer o que senti, esgotado, o pó circunda o quarto, respiro ofegante, abro as mãos designadas, exausto o corpo permanece inerte, aos pés da cama observo o chão, o espelho pálido concentra em si imagem, de fecundação, pornografia da minha humana condição.
De fundo uma melodia atravessa as paredes, vibram as portas, nas mãos segredos, a janela aberta deixa absorver o que resta dos cheiros.

Evito comentários, desaguam palavras sem significado, estranho o dia e a noite, são lugares desabitados, que mãos laboram o texto errado, da condição presente, inércia, o corpo saboreando o olhar deitado.

Quero ficar, sem medo, quero acreditar sem rodeios, quero nascer no teu ventre, sentir dos teus olhos o abraço eloquente.
Evito estar presente… Eu… Eu e as minhas paredes, choram inundando todo o espaço.
Palavras do meu tempo desaparecerão eternamente, deste precioso momento não restar mais nada… Senão…
Tudo!
Estando eu pouco demente, evitado e rejeitado para sempre…
Lembra-te…
Os olhos são siameses das mãos. Também amam, Também namoram, também te possuem, agarram e devoram.

Mesmo que…
Mesmo que sejas apenas um sonho a viajar o mar agitado que é sangue que ferve nas minhas veias.

Não te preocupes…
Eu volto.
Eu sempre volto.

Paulo Themudo

27 de maio de 2008

“A Palavra e os Corpos!”

Brutal!...

Tecido humano, novelo de sangue, coração triunfante, namoriscando a natureza entediante.

Animal!...

Instinto, sôfrego, sentimento de pedra, lugar de sonos profundos, grão tecendo com novelos de vento, nova armadura.

Soldado! …

Implacável, ser vivido desfruta, sabor de um fruto, pútrido só por si furtando as lágrimas desta natureza.
Ser da chuva, as correntes espirituais abraçam, luvas negras são mãos que estilhaçam, a minha guerra!

A minha guerra!
São as palavras...

Sinto-me ir, devastando tudo à minha volta, cumpri o silêncio, fecundei o pensamento entornando nas mãos de pedra a erosão do vento.

Sentimentos...
Tenho tantos!
Sou construído de tantos!

Tenho para mim, egoísta, passos irmãos, consumados, extasiados no tempo.
Irmãos de alma... Feitos de palavras.

Palavras! …

Brutalmente maltratadas, inconscientes, assinadas! As minhas palavras feitas de tantas moradas.
O edifício sou eu, ao cimo, nuvens de pó e desatino, minha tortura, olhar os dedos, não ter pintura, observar orvalhos da natureza, caindo, sepultando as terras removidas, meu silêncio, minhas palavras! Meu incenso!

Os olhos!
Emolduram certo momento, choro ecoa as paredes do universo, espaço encantado e sereno, são essas mãos onde acordo...

Mãe.

Lá longe, sangue corre nas veias, é o íntimo da poesia conquistado, alma segura cai sangrando, o último beijo foi meu pecado.

Guerra! Meu pai... Nasci!

Será que sabendo, será que implacavelmente me contendo, te entrego... Me dou e não recebo, não me nego.

Amo! Amo! Amo tanto! ultrapassando todos os limites do sentimento.
São as palavras... São as palavras!

Bestas!

Medonhas, enfarte, miocárdio sufocando, é velha gente!
Por falta de palavras! Por falta de palavras, vai-se só e indiferente...

Os velhos!
São como crianças, pedintes de sorrisos e lembranças.
As crianças! …
As crianças são palavra, na boca dos velhos!
São vida no início da vida, neste tempo que lâmina golpeia sem desdenho, onde não há nada... Nem mesmo palavras.

Estou cansado! Estou farto!
Lastimo minha última morada, que foi céu aberto, sorri com esplendor, a foice da solidão estanca-me o sangue, a alma percorre todos os cantos, sou serpente maligna saboreando de um corpo...
Pecado! Humano! Pecado!...

Bela donzela, fica-me o nome, o fruto amargo como fel dá-me desespero.
Ouçam-me os céus, ou algo mais poderoso e infinito...

Cortaram-me a língua!
As mãos trémulas, elevam-se gracejando, olhos cegos em pose segura, suplicam...
Despedem-se...
Estão as portas do universo cerradas, almas viajantes sem moradas, as estrelas são as soberanas do novo mundo!

Palavras!...
Só mesmo um Deus as poderia derrotar!

Estou cansado!
Farto de ser uma besta! Animal! Brutal! Soldado! De ser Palavra!... Um sonho…

Um sonho bom, ou um sonho mau.

Paulo Themudo

22 de maio de 2008

"Depois Das Lágrimas... Que Bebi"

O chamamento, a queda solitária, bebo à saúde dos deuses, penetra-me as veias como sangue perdido, muralhas escaldantes enfeitiçadas de sol, são o meu corpo...

Transpira, respira fúnebre, visão das ruas, o copo da alma dá-me de beber sem caminho.

Rosto, decência, farto de ser mendigo, acordo não dormindo, tomar dos olhos senis um trago de vício, sou velho! Tenho poemas e lemas de criança infantis! Sou grito que respira a tua sede de sonhos, sou ser... Humano descobrindo, abrem-se cortinas, cego no passeio descalço, correm agarrando estrelas, os meus olhos...

Vivo a sombra das miragens, oásis planetário da noite embriaga-me, estas gentes que passam despem-me os jornais que em noite irrequieta enfeitam corpo de papel, palavra sem sabor, nas mãos dos Deuses, Clamo, Grito alto! O grito aflitivo e sufocante da sede desta poesia furtando.

Ficam sombras, oferenda, coração humano, de gente humana... Gigante! Do tamanho do grito! Desespero, não ser mais gente.

Agora o sabor é insípido, da cor das lágrimas transparentes, decorando vagas de mar incandescentes que são os olhos cegos balançando nos braços efervescentes, do sol...

Estou velho! Ouçam! Estou velho! Tenho medos! Tenho sed... Sim, como de um deserto se tratasse, tenho tanta sede!

Minúsculo raio de chuva namora a singela nuvem que passa desamparada despindo os meus olhos.
O vidro opaco, projecta imagens, vivências em mesa cheia, do líquido, vertem as mãos transpiradas a última réstia de grito.

Perdoem-me... Perdoem-me os Deuses se não me contive. Mas quis... Quis encharcar a alma com sonhos embriagados de pesadelos, quis ser louco, desenfreado mastigar as correntes do vento, namorar o ar refrescante, nadar a vaga de mar, ilusão...

Solidão a idade dos tempos me permite, dizer assim, que sim... Que nasço no dia em que morri. Cheio de sede! Cheio de medo! Cheio de frio!

O pedaço de Jornal noticia-me, a necrologia, acredito agora, sim, seriamente que bebi em demasia da poesia dos sonhos, para deixar de estar, aqui...

Paulo Themudo