28 de setembro de 2008

“O Tempo Reduto"

Tão verdadeiro, fome…
Criança escondida
Sufoca, no seu oxigénio,
Transpiram-se palavras,
Incógnitas, desespero,
Veste-se papel com medo.

Depois do céu, espaço,
Abraçam-me estrelas,
Dor, sinto, tenho olhos,
Olhos que roubam!
Minha natureza,
Fui imenso, imagem,
Fúria impetuosa, certeza.

Antes ser poeta,
Arma na mão, golpe frio,
Olhos enganados, sou escravo
Do que sou e não sou.
Meus olhos deixam um recado...

Depois de ser tudo
Não quis ser mais nada,
Iludi-me, iluminei-me,
Laborei a minha estrada.

A textura do caminho
Deixa recordar
Corpo, golpeado, meu sangue
Foi ao mar, naufragar.

E ainda tenho tantos medos,
Tanta fome de tudo!
Desejos, segredos,
Realidade, meu mundo...

Meus olhos
São galerias, cortinas abertas,
Em vida, o que resta dos meus dias,
Acaricio as mãos desertas.

O pensamento encontra
Na caricatura do tempo
Um lugar para os meus olhos.

Iludido... Fantasiei, dormi,
Teu colo um céu estrelado,
Caí, debruçado na luz,
Meus olhos, são agora, silêncio
Espelhado.

Houvesse mais tempo, eu
Memória, enganando o presente
Que é somente relâmpago de tempo
Permanentemente ausente.

Vou embora, soluçando,
A voz segreda-me aflita
Lugar dos sonhos, ilusão maldita,
Medo esfomeado, terror,
Sou corpo, sou nada,
Depressão do amor,
Imagem, possuo a cor,
Os braços sangram, e guerra,
Onde tudo acaba.

Eu quero sol,
Dormir, sentir os grãos de areia
Com que construo os meus castelos,
Moradas incertas, sangue, minha veia
Compõe o silêncio presente.

Desejando ser poeta, corri,
Outra vez só, cometi
Adultério com as palavras,
Infiel, preso aqui,
Golpeio o que resta de mim.

Foi falso, precipício,
Verdades contêm de mim
Frívolo pensamento, desdenho,
Quem sou, afoga
O Rio estranho, foi vida.

A vontade é um alicerce
À toa, a força, eu,
Majestoso brilho, socorro,
A alma corre a sala inebriada,
Os braços, abertos,
Alcançam lugares, a janela,
Meus olhos crescem, respiro,
O outro mundo, vivo.

Juro que não menti,
Queria apenas dois dias
Dizem a vida tem,
Quero vivê-los,
Aqui.

Farei verdade, da jura,
Este sangue imaculado, segura
No corredor das palavras,
O virar de um tempo,
Passagem solitária, meu ser,
Descalço, escondido, embriagado.

Foi falso, o início
Que não teve fim.

Acordar, tantas gentes,
Da minha pequena alvorada,
Brilhos, luminosos lençóis,
Daqueles que deitados, amaram,
Criaram, foram inocentes e dementes.
Não tenho signo, sou feito de areia,
Inimigo, vento,
Percorre-me o corpo diminuído
Por qualquer caminho.

Não paro, agora…
Está alguém, do outro lado,
Onde me encontro, choro,
Sorrio e me amedronto.

A vontade é silêncio que me veste
As mãos são
puras louvando,
Palavra, minha prece,
Arte mais antiga, ser homem.
Entregar ao tempo
O que lhe apetece.

Juro que não me vendi,
Queria apenas dois dias
Dizem a vida tem,
Quero vivê-los,
Aqui.

Porque consigo, amplitude,
Abraçam as obras, são meu corpo,
A carícia, são olhares,
Apetecíveis as mãos que vestem.

Não me deixo cair,
Flutuo, assombrando o inimigo,
Céus escarlates, perigo, batalha
Meu coração enobrece, dizendo…

Sou voz semelhante
Ao reino evidente, puro, somente
Dos céus evidenciados, sou amante
Logo a voz desperta,
Parecia eu, areia, palavra
No pálido da memória,
Traços, mensagens,
Hieróglifos evidentes
Da minha hierarquia pendente.

Vestido de Deus,
Afogo, a terra acode,
Ateio, observo, incendeio
Corações, vivo!

Vestido de mim,
Acordo e respiro.

Quero ao mundo dar
Quero ao mundo falar,
Acosto à praia deserta dos meus versos,
Eis que me revejo ressurgir da areia,
Meio humano, meio gente,
Meio desejo, meio inocente…
Quero os dias!
Quero ocultar as verdades das mentiras!

Deixem-me fantasiar,
Iludido, ser,
A criança insistida
Que anda em mim.

Juro que não me escondi,
Queria apenas dois dias
Dizem a vida tem,
Quero vivê-los,
Aqui.

Perdoem-me, tamanhos versos,
Não hesitei,
Atirei para aqui,
Tudo aquilo que senti!

Paulo Themudo

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