27 de maio de 2008

“A Palavra e os Corpos!”

Brutal!...

Tecido humano, novelo de sangue, coração triunfante, namoriscando a natureza entediante.

Animal!...

Instinto, sôfrego, sentimento de pedra, lugar de sonos profundos, grão tecendo com novelos de vento, nova armadura.

Soldado! …

Implacável, ser vivido desfruta, sabor de um fruto, pútrido só por si furtando as lágrimas desta natureza.
Ser da chuva, as correntes espirituais abraçam, luvas negras são mãos que estilhaçam, a minha guerra!

A minha guerra!
São as palavras...

Sinto-me ir, devastando tudo à minha volta, cumpri o silêncio, fecundei o pensamento entornando nas mãos de pedra a erosão do vento.

Sentimentos...
Tenho tantos!
Sou construído de tantos!

Tenho para mim, egoísta, passos irmãos, consumados, extasiados no tempo.
Irmãos de alma... Feitos de palavras.

Palavras! …

Brutalmente maltratadas, inconscientes, assinadas! As minhas palavras feitas de tantas moradas.
O edifício sou eu, ao cimo, nuvens de pó e desatino, minha tortura, olhar os dedos, não ter pintura, observar orvalhos da natureza, caindo, sepultando as terras removidas, meu silêncio, minhas palavras! Meu incenso!

Os olhos!
Emolduram certo momento, choro ecoa as paredes do universo, espaço encantado e sereno, são essas mãos onde acordo...

Mãe.

Lá longe, sangue corre nas veias, é o íntimo da poesia conquistado, alma segura cai sangrando, o último beijo foi meu pecado.

Guerra! Meu pai... Nasci!

Será que sabendo, será que implacavelmente me contendo, te entrego... Me dou e não recebo, não me nego.

Amo! Amo! Amo tanto! ultrapassando todos os limites do sentimento.
São as palavras... São as palavras!

Bestas!

Medonhas, enfarte, miocárdio sufocando, é velha gente!
Por falta de palavras! Por falta de palavras, vai-se só e indiferente...

Os velhos!
São como crianças, pedintes de sorrisos e lembranças.
As crianças! …
As crianças são palavra, na boca dos velhos!
São vida no início da vida, neste tempo que lâmina golpeia sem desdenho, onde não há nada... Nem mesmo palavras.

Estou cansado! Estou farto!
Lastimo minha última morada, que foi céu aberto, sorri com esplendor, a foice da solidão estanca-me o sangue, a alma percorre todos os cantos, sou serpente maligna saboreando de um corpo...
Pecado! Humano! Pecado!...

Bela donzela, fica-me o nome, o fruto amargo como fel dá-me desespero.
Ouçam-me os céus, ou algo mais poderoso e infinito...

Cortaram-me a língua!
As mãos trémulas, elevam-se gracejando, olhos cegos em pose segura, suplicam...
Despedem-se...
Estão as portas do universo cerradas, almas viajantes sem moradas, as estrelas são as soberanas do novo mundo!

Palavras!...
Só mesmo um Deus as poderia derrotar!

Estou cansado!
Farto de ser uma besta! Animal! Brutal! Soldado! De ser Palavra!... Um sonho…

Um sonho bom, ou um sonho mau.

Paulo Themudo

1 comentário:

Mª Dolores Marques disse...

Gostei das suas "Palavras e os Corpos" e do seu portfólio de pintura.
Um beijo meu
Dolores