17 de janeiro de 2008

"Não Há Palavras Proibidas"

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
são pássaros em fogo em suas mãos

que se fodam os versos castrados
nados do servilismo
do comércio
das vinte moedas de judas
traindo o poema
ferindo-o de morte

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
nascem para ser ditas ser cantadas

até as putas
que se exibem nas dobras do poema
em cujas tetas mamam as metáforas
as luminosas jóias da coroa
ocultas em quarto fechado
bem longe da plebe
merecem o olhar do poeta

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
são pétalas brilhando para o sol

e digo
que não se vire a cara ao miúdo
que esmola pede à beira da estrofe
nas suas mãos respira o verbo
a palavra fome
e há que dar-lhe espaço
no corpo do poema
que salta para a rua como pedra
contra as vidraças da indiferença

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
têm no olhar a urgência do parto

e reclamo exijo
que todas as palavras se amotinem
não temam o chicote o capataz
a voz dos bufos dentro das paredes
porque é arma o poema
granada que rebenta nos sentidos
quando as palavras livres esvoaçam

não há palavras proibidas
nas mãos de um poeta
não há
porque todas as palavras
mas todas as palavras são das ruas

Xavier Zarco

1 comentário:

Unknown disse...

Caro Paulo,

Obrigado por esta surpresa. E a referência ao teu próximo livro?
Um abraço
Xavier Zarco