22 de maio de 2008

"Depois Das Lágrimas... Que Bebi"

O chamamento, a queda solitária, bebo à saúde dos deuses, penetra-me as veias como sangue perdido, muralhas escaldantes enfeitiçadas de sol, são o meu corpo...

Transpira, respira fúnebre, visão das ruas, o copo da alma dá-me de beber sem caminho.

Rosto, decência, farto de ser mendigo, acordo não dormindo, tomar dos olhos senis um trago de vício, sou velho! Tenho poemas e lemas de criança infantis! Sou grito que respira a tua sede de sonhos, sou ser... Humano descobrindo, abrem-se cortinas, cego no passeio descalço, correm agarrando estrelas, os meus olhos...

Vivo a sombra das miragens, oásis planetário da noite embriaga-me, estas gentes que passam despem-me os jornais que em noite irrequieta enfeitam corpo de papel, palavra sem sabor, nas mãos dos Deuses, Clamo, Grito alto! O grito aflitivo e sufocante da sede desta poesia furtando.

Ficam sombras, oferenda, coração humano, de gente humana... Gigante! Do tamanho do grito! Desespero, não ser mais gente.

Agora o sabor é insípido, da cor das lágrimas transparentes, decorando vagas de mar incandescentes que são os olhos cegos balançando nos braços efervescentes, do sol...

Estou velho! Ouçam! Estou velho! Tenho medos! Tenho sed... Sim, como de um deserto se tratasse, tenho tanta sede!

Minúsculo raio de chuva namora a singela nuvem que passa desamparada despindo os meus olhos.
O vidro opaco, projecta imagens, vivências em mesa cheia, do líquido, vertem as mãos transpiradas a última réstia de grito.

Perdoem-me... Perdoem-me os Deuses se não me contive. Mas quis... Quis encharcar a alma com sonhos embriagados de pesadelos, quis ser louco, desenfreado mastigar as correntes do vento, namorar o ar refrescante, nadar a vaga de mar, ilusão...

Solidão a idade dos tempos me permite, dizer assim, que sim... Que nasço no dia em que morri. Cheio de sede! Cheio de medo! Cheio de frio!

O pedaço de Jornal noticia-me, a necrologia, acredito agora, sim, seriamente que bebi em demasia da poesia dos sonhos, para deixar de estar, aqui...

Paulo Themudo

1 comentário:

Mª Dolores Marques disse...

Vim agora aqui Paulo
Mais um texto que dá que pensar.
Somos o que somos, mas quem somos?

Chamam-nos! E temos medos

Dolores